O autor Aguinaldo Silva, de 80 anos, abriu o jogo sobre a polêmica do beijo gay nas novelas e a mudança do público em relação aos casais homoafetivos nas telinhas. Em entrevista ao Correio da Manhã, o novelista relembrou o corte de um beijo entre Jenifer e Eleonora em ‘Senhora do Destino’ e destacou a grande aceitação do público após criar o Crô, em ‘Fina Estampa’.
“Não sei. Uma vez escrito e entregue, o capítulo pertence à emissora. Eu só via a novela no ar. Mas havia uma disputa, entre alguns autores, para ver quem conseguiria emplacar o primeiro beijo gay. Sabíamos que não era para aquele tempo e que não iria ao ar, mas escrevíamos. Quem ganhou foi o Walcyr Carrasco”, contou o autor.
Aguinaldo Silva também falou sobre a mudança do público em relação aos personagens gays na televisão e destaca que Crô acabou fazendo com o que telespectador criasse mais simpatia pela causa. “Eu não esperava, por isso o fiz descontraído. A partir dali, mudou a rejeição. Mas uma grande parcela da população não gosta. Novela não é feita só para pessoas esclarecidas. Mas essas pessoas já não reagem tão negativamente”, refletiu ele.
Ainda na entrevista, o autor de novelas fez um comparativo entre os personagens gays mais escandalosos e os mais reservados, enfatizando que os gays que não expressam a sexualidade acabam sendo mais aceitos pelo público.
“Os gays que são mais pintosos, para usar a palavra maldita, têm o direito de ser assim. É um perigo, compartimentar as coisas e dizer que os gays pintosos são caricatos, e os gays sérios são os que devem ser levados a sério. Precisamos tomar cuidado para não lutar contra o preconceito e sermos preconceituosos. É curioso ainda que personagens gays que não expressam sua sexualidade, como se fossem assexuais, sejam mais aceitos. A novela é um veículo para 40 milhões de pessoas, então é preciso cuidado. Mesmo não havendo cenas românticas ou na cama, o fato de ter uma relação homoafetiva já é positivo. Talvez leve a uma evolução”, completou Aguinaldo Silva.