ENTREVISTA

Atriz Nila, protagonista do primeiro beijo gay de Malhação, fala sobre os desafios de ser uma mulher trans

Atriz também falou sobre a decisão de se assumir como trans perante uma sociedade tão preconceituosa

A atriz Nila
A atriz Nila (Foto: João Dias)

A atriz trans Nila, que ficou conhecida nacionalmente por sua participação em Malhação (2018), falou sobre os desafios de ser uma mulher trans na sociedade brasileira. Em entrevista ao Jornal da Paraíba, a estrela paraibana destacou a importância da arte dramática em sua vida e relembrou o momento em que protagonizou o primeiro beijo gay da história da novela teen exibida pela TV Globo.

“Quando se quer ser atriz é porque há uma necessidade interna incontrolável de se viver muitas vidas em uma só. Foi estudando, construindo e interpretando essas personagens e suas histórias de vida, que pude descobrir em mim minha própria humanidade e valorizar tudo o que vem com isso. Acho meu ofício bonito porque ele não só cria novas possibilidades de vida e agrega à imaginação das pessoas, mas também expande os nossos sonhos e coloca o público em contato direto com suas próprias emoções e angústias”, contou a artista.

Nila também relembrou um dos momentos mais marcantes de sua carreira artística, quando protagonizou o primeiro beijo gay da novela teen Malhação, exibida pela TV Globo, e recebeu diversas ameaças por grupos da extrema-direita.

“A repercussão foi absurda, passamos mais de 8 horas nos trendings topics mundial do Twitter e minhas visualizações nas redes sociais passaram de 1 milhão de views. Eu recebi ameaças de morte de grupos de extrema-direita e sofri muito assédio naquela época, quando eu só tinha 18 anos. É a primeira vez que escrevo sobre isso, e estou dando todo esse contexto para explicitar o quanto a descriminação não vê humanidade. Quase 6 anos depois, acho que tivemos avanços, mas ainda está muito distante do que realmente seria considerado ideal para a comunidade LGBTQIAPN+”, afirma.

Ainda na entrevista, a artista recordou a sua decisão de se assumir como uma pessoa trans e que este processo faz parte de sua jornada de autoconhecimento e também de evolução.

“Quando uma pessoa trans decide mudar o nome é porque ela já está num estágio de autoconhecimento tão forte que fica impossível continuar essa jornada atrelada à alguém que não se é mais. Hoje, eu não gosto e não quero que me chamem pelo meu nome de registro porque ele não faz mais parte do meu presente, e para que eu possa seguir sendo quem eu sou, não posso continuar associada a um nome que não me compreende mais. É preciso respeitar estes processos porque são eles que nos agregam valor humano”, explicou Nila.