Alice Caymmi, de 34 anos, precisou de tempo até sentir-se confortável para falar abertamente a sua própria orientação sexual. Desde 2014, o tema já estava presente em suas obras, mas ganhou ainda mais força após um profundo processo de autodescoberta.
Em entrevista ao portal Splash, do UOL, a cantora e compositora abriu o coração e compartilhou memórias de sua adolescência, quando já atraía olhares curiosos.
“Quando eu era adolescente já tinha muitos olhares. Quando eu tive possibilidade de ter uma namoradinha já deu um escândalo. Isso foi uma maluquice. Hoje em dia, eu me vejo como uma pessoa pansexual e queer também, porque eu faço drag”, destacou.
Artista, que lançou seu álbum inaugural em 2012, acredita que é difícil produzir qualquer tipo de arte hoje sem esbarrar em questões de diversidade. “Sempre fui acolhida e, agora, estou abraçando de volta publicamente […] A minha arte, ela costura esses temas sempre. É difícil fazer qualquer tipo de arte sem esbarrar nisso. Acho que fica muito desinteressante uma arte que não dialoga com todo tipo de expressão”, afirmou.
Alice, que é neta de Dorival Caymmi (1914-2008), destaca a diferença geracional em relação à discussão sobre sexualidade. Enquanto artistas de gerações anteriores, como o pai, Danilo Caymmi, e os tios, Nana e Dori Caymmi, mantinham silêncio sobre o assunto, a geração da artista se sente livre para falar abertamente sobre suas experiências e identidades pessoais.
“Foi muito difícil, porque eu estava próxima de muitas dessas cantoras [que são LGBTQIAPN+], por eu ter muito contato com grandes artistas, e sempre foi uma coisa meio velada nas conversas. O pessoal da geração do meu pai, dos meus tios, não tem esse tipo de conversa. Não existe esse tipo de abertura. Eles são super fechados e não falam sobre”, frisou.
Entretanto, Alice Caymmi reconhece os desafios persistentes para artistas LGBTQIAPN+. A visibilidade obtida, em alguns casos, pode se transformar em uma espécie de peso, limitando a percepção do público acerca de suas criações.
“Às vezes, a coisa chega na frente da arte da pessoa. Eu vejo pessoas, amigas, da sigla, falando: ‘Pô, eu queria que me ouvissem mais. Ficam me chamando por causa disso. Eu queria ser chamado menos por causa disso’. Pessoas maravilhosas, como a Liniker, por exemplo”, refletiu.