Édouard Louis abre o jogo sobre homossexualidade e as cobranças familiares por masculinidade

No programa Roda Viva, o escritor falou sobre a influência do machismo e da homofobia na sua infância

Édouard Louis no programa Roda Viva - Reprodução/TV Cultura
Édouard Louis no programa Roda Viva - Reprodução/TV Cultura

Na último segunda-feira (21/10), Édouard Louis, de 31 anos, foi o convidado no programa Roda Viva, da TV Cultura, onde falou sobre sua homossexualidade, e como o machismo presente no ambiente em que cresceu impediu que tivesse uma boa relação com seu pai.

“Posso dizer que, assim que nasci, quando aprendi a falar, a me movimentar, a andar, eu estilhacei os sonhos do meu pai. [Ele] sonhava em ter um filho másculo, durão, que jogasse futebol, que gostasse de mulher”, começou o autor, em resposta a uma pergunta do advogado e produtor de conteúdo literário Pedro Pacífico.

“Meu pai sonhava em ter um filho másculo, durão, que jogasse futebol, que gostasse de mulher. Eu era um rapazinho gay, efeminado, que desejava outros rapazes, que tinha horror a esportes”, acrescentou.

Na sequência, ele afirma que isso foi uma forma de traição para o patriarca. “Eu traí a masculinidade dele porque, para que ele mesmo produzisse essa masculinidade, ele precisava ter um filho macho. Ser homem de verdade é levar o filho no jogo de futebol, ter conversas másculas com ele, ensiná-lo a consertar coisas, e eu não era assim”, destacou.

Na sequência, ele também falou sobre o isolamento social provocado pela homofobia tanto em casa quanto no ambiente escolar, o que o levou a se afastar da família e de amigos de infância e adolescência. “Me chamavam de bicha, biba, maricas, veado. Mas no fim, o que tento entender é o modo como essa violência me salvou, porque ela não me deixou outra escolha senão ir embora”, refletiu.

“Por ter sido excluído, não tive outra escolha senão ir, ir para uma cidade maior, ir para a escola, ler livros, e não fiz tudo isso por ser mais inteligente que os outros, ou mais sensível que os outros”, continuou.

Por fim, o autor comentou que seus livros são um litígio e guerra com a história da literatura. “[Meus livros] contam sempre as histórias de pessoas que fogem do seu meio, da sua infância, como se elas fossem mais inteligentes, mais livres, mais sensíveis. Eu não era mais sensível, era simplesmente excluído e tive que partir por causa disso”.

O francês é a mente por trás de livros como “Mudar: Método (2024), Lutas e metamorfoses de uma mulher (2023), Quem matou meu pai (2023).

Confira, abaixo, a entrevista na íntegra:

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