Roger Felipe Naumtchyk, de 47 anos, filho adotivo de Cid Moreira (1927-2024), detalhou como teriam acontecido os supostos abusos do pai durante anos. Ele foi morar com o jornalista aos 14 anos de idade, por intermédio da tia, Maria Ulhiana Naumtchyk, com quem o comunicador era casado.
O cabeleireiro afirma que o assédio começou logo cedo e que o processo de adoção formal foi feito para evitar burburinhos. Já o distanciamento entre eles teria acontecido depois de Roger Felipe, que é gay assumido, assumir um namoro, em 2004. O patriarca teria ficado com ciúme e dado um jeito de se livrar do herdeiro.
O apresentador sempre negou qualquer tipo de violência, afirmando que o profissional de beleza estava o “perseguindo” e “inventando histórias que nunca aconteceram”. Eles travavam uma briga judicial que chegou ao fim em 2022, quando a Justiça decidiu que não houve abandono parental.
Em entrevista ao jornalista Valmir Moratelli, da revista Veja, Roger detalhou o que aconteceu durante os anos que morou com Cid. “Vim para o Rio em 1990, tinha 14 anos quando vim para passear. Cid era casado com uma tia minha. Já o conhecia há anos, ele ia lá no Rio Grande do Sul visitar minha família. Em 1990, quiseram me trazer ao Rio para ficar uns dias, passar uma semana. Só que ele gostou de mim e quis que eu trabalhasse como seu secretário. Naquele momento, para minha família de situação humilde, parecia uma grande oportunidade. Ainda mais ele sendo uma pessoa importante”, contou.
“Depois de uns dois meses morando com ele, voltando para dentro de casa, me deparei com ele fora da sauna completamente nu. Aquela situação me deixou em choque, a gente está falando em 1990”, acrescentou.
“Eu era ingênuo em relação a isso. Subi logo ao escritório. Pouco tempo depois, ele começou a dar uns gritos na sauna e desci correndo, achei que ele tivesse se machucado. E aí vi que ele estava se masturbando. Depois descobri que aquilo era corriqueiro, todos os funcionários ouviam. Algum tempo depois, comecei a fazer a sauna com ele a seu pedido. Era 24 horas com ele, se ele ia para a Globo, eu ia também. Eu era sua sombra, considerado o carregador de malas, na Globo falavam que eu era ‘garotão do Cid’. Mas ele me tratava como filho”, explicou.
Na sequência, ele relembrou que Moreira foi se aproximando aos poucos. “Até que um dia, nessas saunas, ele pediu para que eu passasse a ajudá-lo na masturbação. Nessa época, para mim, aquilo não era estupro ou assédio. Não considerava um abuso, nem imaginava o que era aquilo. Só agora, mais recente, entendi que fui abusado. Um tipo de estupro”, revelou.
Roger Felipe Naumtchyk, no entanto, não pensava estar sofrendo um abuso naquele momento. Ele encarava tudo como parte do trabalho. “Para mim, o fato tinha que ter penetração. Não imaginava que aquilo ali já se concretizava um abuso sexual. Estava tão condicionado com aquilo, que não me machucava, não me violentava, eu bloqueava”, disse.
Os abusos seguiram até por volta do ano 2000, quando Roger Felipe tinha 24 anos e permaneceu virgem até deixar a casa do patriarca – mais ou menos a mesma época em que a adoção foi concretizada.
“[Acontecia] Às vezes três vezes por semana, às vezes a semana passava e não acontecia nada, às vezes aconteciam quatro vezes por semana. A gente sempre ficava no mesmo quarto (de hotel). E nunca iam desconfiar. Se o filho é teu, é normal. Agora, se ficar no quarto com um garoto de 15 anos, pode gerar uma desconfiança. Era assim”, afirmou.
Apesar do episódio, ele diz que ter pena do pai. “Ele tinha um problema, vício por sexo. Isso foi o que ocasionou que Fátima também conseguisse manipulá-lo durante todo esse tempo”, defendeu.
Ele também comenta que o relacionamento com o pai mudou quando ele começou a namorar o marido com quem está até hoje. Nessa época, o jornalista já se dedicava à narração da Bíblia em Cds, que venderam milhões de cópias. Ele relata que o pai teria dito que ele não poderia participar da gravação do livro religioso “que eu não poderia trabalhar com ele na gravação da Bíblia, que tinha que sair de casa e ir para o salão de beleza, que combinava mais. E Fátima disse que eu não poderia continuar nos trabalhos da Bíblia, porque sendo gay mancharia a imagem do Cid. Fui mandado para fora de casa, até a minha cama ele tirou”.
“Perdi meus dois imóveis, tinha um estúdio de gravação, onde gravávamos os CDs da Bíblia, que ele construiu para mim. Fui tirado do apartamento com uma juíza dentro da casa. Fátima vendeu o apartamento e comprou uma casa para ela. Mesmo assim deixei tudo isso para lá e fui viver minha vida, mas muitos ataques continuaram acontecendo”, continuou.
O cabeleireiro gostaria de ter falado com o comunicador antes dele morrer – o último contato deles foi por e-mail, em 2014, quando Cid Moreira anunciou que pretendia deserdá-lo. “Gostaria de falar daqueles abusos. Para mim, é uma coisa encerrada, não é algo que alimento com ódio. As pessoas falam: ‘você tem ódio dele porque ele era abusador?’ Não, não tenho ódio. Mas é óbvio que me causou algo, hoje em dia, sou meio assexuado. Era um direito nosso ter esse contato com ele, mas a Fátima nunca permitiu”, confessou.
Vale destacar, que Roger e seu irmão, Rodrigo Razendev Simões Moreira, que também foi deserdado, entraram na justiça para batalhar pela herança do ex-âncora do Jornal Nacional, que vale cerca de R$ 60 milhões, que retirou ambos do testamento e deixou tudo para sua esposa, Fátima Sampaio.