O festival alemão de cinema Berlinale, que sempre celebrou a diversidade LGBT premiando filmes com a temática, traz em sua 70ª edição com seus filmes um tema bastante discutido atualmente: crianças e adolescentes trans.
De acordo com o site RFI, a temática do movimento LGBT é discutida desde o ano de 1987, com o lançamento da premiação chamada Teddy Bear, que premia produções do gênero, e nessa edição traz um leque fortuito de histórias distintas.
Vai desde “Vento Seco”, do brasileiro Daniel Nolasco, rodado na cidade de Catalão, passando por “Minyan”, de Eric Steel, sobre o dilema de adolescente gay em uma conservadora família judia em Nova York, até o documentário sueco “Always Amber”, de Lia Hietala e Hannah Reinikainen, que traz a temática de expressão queer juvenil.
Mas, nesta edição, pelo menos três filmes abordam o assunto das crianças e adolescentes trans. Por coincidência ou não, o tema veio com peso nessa edição da Berlinale. Eles trazem em seus enredos a vida de uma pessoa que descobre durante seu crescimento sua verdadeira identidade.
O filme de Gil Baroni conta a história de Alice, uma adolescente transgênero que é forçada a se adaptar a um novo sistema de vida ao se mudar da badalação da capital pernambucana para uma cidade do interior do Sul, lidando com o conservadorismo do lugar.
“Ser uma pessoa trans hoje no mundo é saber que seu corpo é político, que ele exala resistência”, declarou o cineasta brasileiro sobre sua obra. “Nunca se produziu tantos filmes como essas temáticas no Brasil. Quanto mais a gente sente que existe um processo ou uma onda conservadora, mais nós, da comunidade LGBTQI+, sentimos que existe uma necessidade de expressar e pôr isso em pauta e em discussão nas telas, na internet, e em todos os lugares”, ressaltou Baroni.
Ele acrescenta que decidiu apresentá-lo com uma pegada mais leve e humorada, mas sem perder o tom de militantismo. “Alice é uma adolescente trans que tem um sonho muito simples, que é dar o seu primeiro beijo”.
O documentário “Petite Fille” de Sébastien Lifshitz mostra a gradual evolução de Sacha, uma menina de sete anos nascida no corpo de um menino. A rotina da família de Sacha foi acompanhada durante meses, e é trazida sob uma perspectiva delicada.
O filme mostra tanto o desespero de uma mãe que tenta apenas ver sua filha “ter uma infância como todas as outras crianças” quanto a perspectiva da pedopsiquiatra da menina.
“Petite Fille” define a questão da disforia de gênero, que são momentos quando a pessoa tem uma dissociação da visão sobre a aparência externa e a identidade psicológica, e que é mais intenso durante a infância e a adolescência.
Lifshitz espera que seu filme, aclamado no festival e que também faz parte da mostra Panorama, possa ser mostrado em estabelecimentos de ensino para auxiliar a formação de futuros professores com essa questão.