Entrevista

A Visita: Katy da Voz e as Abusadas misturam terror, funk e provocação com novo álbum

Inspirado no ABBA e em filmes de horror, segundo disco traz a força do trio na cena underground
12/11/2025 16:00
COMPARTILHE
Parceiro
Terra
Katy da Voz e as Abusadas(foto: Gabriel Renné)

Katy da Voz e as Abusadas

Provocativas, visionárias e atormentadas, Katy da Voz e as Abusadas seguem consolidando sua marca como um dos maiores referenciais da cena underground brasileira. O trio, formado por Katy da Voz, Palladino Proibida e Degoncé Rabetão, lançou, no último dia 22 de outubro, A Visita, segundo álbum que propõe uma imersão com a combinação do funk, o horror e a liberdade artística.

Embora o título A Visita remeta ao famoso filme de terror homônimo lançado em 2015, a origem da inspiração surgiu, na verdade, do icônico The Visitors (1981), do ABBA. “Ele não tem muita ligação com o filme, é mais o título. Esse título veio mais por causa do ABBA e pelo conceito que eu queria trazer por trás, pelo demônio, aquela coisa mais clássica, como se esse demônio fosse essa visita e que o álbum fosse uma visita para quem escutasse”, explica Katy da Voz, em entrevista exclusiva ao Observatório G.

Para a líder do trio, a ideia de uma "visita demoníaca" é uma clara metáfora para o impacto que as músicas provocam: um convite ao público, que a cada Halloween se prepara para uma novidade delas, que estão na surgiram na cena em 2019, direto da Zona Sul de São Paulo.

"Eu queria que de início o álbum fosse todo disco, uma coisa muito Cansei Ser Sexy. Por isso que a primeira faixa é a mais diferente que tem. A gente entendeu que a gente chegou até aqui por causa do funk, da agressividade. As pessoas esperam isso da gente, e quisemos alternar esses gêneros musicais", declara Katy. O resultado, aliás, não poderia ser outro: a fusão de um som que mistura o peso do funk com elementos eletrônicas e experimentações projeta o trio em uma posição ousada.

Paixão pelo terror

Mesmo que apenas Katy seja fã assumida do gênero, o terror se tornou uma marca registrada e simbólica delas. “As meninas não gostam de terror, mas como eu sou a mente criativa de tudo, elas adoram a ideia. O meu favorito é Chucky, Pânico e O Exorcista”, confessa ela, que, coincidentemente, utilizava uma camiseta com o boneco assassino na estampa durante o bate-papo.

Katy da Voz e as Abusadas
Katy da Voz e as Abusadas (Foto: Mateus Aguiar)

União 'histórica' entre funk e rock

Além do predomínio do funk, o disco A Visita também flerta com o rock, um gênero que, historicamente, eram opostos um do outro. “Eu concordo que o funk e o rock eram rivais, mas hoje a galera começou a entender que é a mesma coisa. O som é diferente, mas a ideologia é a mesma — o que querem passar é literalmente a mesma coisa”, afirma Katy. O resultado, segundo ela, é o que faz o som do trio ecoar entre diferentes públicos.

Resistência por ser provocativa

Para além da estética, A Visita mantém-se firme à proposta dos projetos anteriores do trio: é um manifesto político. Travesti e periférica, Katy compreende fielmente que seu corpo e sua arte são instrumentos de desconforto, e para ela é algo totalmente intencional. “Eu gosto muito de deixar as pessoas desconfortáveis. Se você está incomodado comigo em cima do palco de calcinha, o problema está em você. É algo comum, mas pesa mais por ser travesti, e o que me magoa é vir da própria comunidade”, desabafa.

Katy da Voz e as Abusadas
Katy da Voz e as Abusadas (Foto: Mateus Aguiar)

Reconhecimento no mainstream

Após o sucesso de 'VTNC', em parceria com Urias, Katy da Voz e as Abusadas encontraram um movimento rumo ao mainstream - no Spotify, por exemplo, elas já ultrapassaram a marca de 200 mil ouvintes. A nova fase é vista não como uma perda de identidade, mas como uma expansão de um trabalho que sempre foi destacado pela autenticidade.

“Eu sempre tive esse pensamento de: ‘Será que a cena LGBT vai ser somente isso?’ A gente não estava virando, e aí do nada foi uma virada de chave muito grande. A gente está no segundo álbum ainda, mas temos uma discografia recheada. As pessoas devem esperar o momento certo pra isso acontecer”, reflete Katy. Apesar do reconhecimento, ela acredita que o mercado e o público ainda não estão prontos para lidar com artistas travestis na indústria.

"Quando achamos que está progredindo, vai estar regredindo. As pessoas nunca vão estar prontas pra nada, ainda lutam para não querer entender. Todo mundo possui todo tipo de informação, mas acredito que ainda não estão prontas. As pessoas realmente amam quando você estiver no auge, mas elas não vão estar prontas para receber o que você tem a propor para elas", aponta.

Expectativas após A Visita

Após de meses intensos de criação, shows e aparições em festivais e eventos como o Halloween da Pabllo, Katy e as Abusadas planejam descansar antes de investir em novos projetos. "Quero fazer shows, descansar um pouco a cabeça, foram meses trabalhando muito. Mas estou com algumas ideias para o próximo ano, e uma delas é lançar esse álbum novo de remixes. Não vai ser uma trilogia, dois álbuns de remixes e acabou", conclui.

Katy da Voz e as Abusadas
Katy da Voz e as Abusadas (Foto: Mateus Aguiar)

Apoio

Pride Brasil
Acessar Site

Loja física e online de produtos para o público LGBTQIAPN+ Vista-se de ORGULHO com a Pride Brasil! pridebrasil.com.br Rua Augusta, 1371, Loja 17, em São Paulo.

Mais notícias do autor

linkedin facebook pinterest youtube rss twitter instagram facebook-blank rss-blank linkedin-blank pinterest youtube twitter instagram