(foto: Wallace Domingues)Lia Clark
Nesta última quarta-feira (10), Lia Clark inaugurou oficialmente uma nova era com o lançamento de Fenomenal, seu quarto álbum de estúdio. Já em clima de celebração pelos dez anos de carreira, que serão completados em 2026, a artista traz uma estética sofisticada, mas sem perder a essência que a consolidou como uma das maiores vozes LGBTQIAPN+ dentro do funk.
A abertura do disco já anuncia o tom grandioso do projeto, com as narrações de Kevin JZ Prodigy e Kona Zion, referências absolutas da cultura ballroom. Em entrevista exclusiva ao Observatório G, a funkeira paulista, de 33 anos, define essa escolha como símbolo de um encontro do passado, em que o movimento a aproximou cada vez mais das balls e de suas histórias.
"Fui entendendo, visitando e estando junto as balls, a entender mais do movimento e ver como isso dialoga fortemente com a cultura periférica que o funk representa no Brasil", afirma Lia CLark. Ao reconhecer seu lugar como a primeira drag queen do funk, ela aponta que unir essas duas linguagens era algo com potencial político. "Ter a Kevin, que já trabalhou a Beyoncé, com a Madonna, e a Kona, que é uma das pioneiras da ballroom do Brasil, abrindo meu álbum, é algo fenomenal", destaca.

O vídeo impactante de apresentação do Fenomenal já traz uma faceta mais artística e eletrônica de Lia Clark, que reconhece o amadurecimento em todos os sentidos. “Planejamos algo muito novo para esse trabalho. Em janeiro faço dez anos que lancei o 'Trava Trava' [seu primeiro disco], e em todo álbum eu busco evolui”, diz.
O álbum reúne participações especiais como MC Carol, Johnny Hooker, MC Mari, MC GW e MC Tha, e que se destacam pela distinção dos universos. Para essa escolha a dedo, Lia confidencia que escolheu o funk eletrônico como base, justamente por acreditar em sua versatilidade. “O funk se tornou uma potência mundial, com milhares de vertentes. Quis navegar nelas. (…) Diversifiquei parcerias, letras e produção, mas queria um álbum pop e coeso”, explica.
Para Lia, o funk continua sendo um dos poucos gêneros musicais capazes de falar abertamente sobre sexualidade, e isso é uma parte fundamental de sua arte. “O funk traz essa liberdade de mostrar a vida sexual de forma explícita, de quebrar o tabu de que sexualidade é feia, vulgar, obscura”, afirma. “Se podemos cantar sobre amor e saudade, por que não sobre sexo? Podemos cantar sobre esse tabu que roda entre a sociedade, e que beira o conservadorismo. As minhas músicas explícitas são feitas para adultos se divertirem”, acrescenta.
Referência, a artista celebra o surgimento de novas figuras LGBTQIAPN+ ocupando a cena do funk. “Quando comecei, em 2016, ela simplesmente não existia”, lembra. Lia reconhece o impacto de sua presença: “Fico feliz, porquê todos os artistas que vieram depois de mim me agradecem, de que alguma forma eu os inspirei, e que a estrada é possível”, se emociona.

Prestes a completar uma década de carreira, Lia Clark reflete sobre ocupar um terreno majoritariamente masculino e heteronormativo como este. “É um estilo totalmente marginalizado. Ser a primeira drag queen e estar aqui após quase dez anos, investindo e resistindo, me deixa muito feliz”, diz.
Modesta, mas sincera, a drag reconhece o peso de sua trajetória até hoje. “Percebi como isso é importante socialmente e politicamente. Eu ocupo um espaço que não é fácil, e que só eu sei o quanto é preciso resistência para fazer da forma que eu faço. Me orgulho da trajetória que eu conquistei, criei e venho criando”, pontua.


Loja física e online de produtos para o público LGBTQIAPN+ Vista-se de ORGULHO com a Pride Brasil! pridebrasil.com.br Rua Augusta, 1371, Loja 17, em São Paulo.

