Entrevista

João Pedro Mariano, o Luka de Tremembé, fala sobre fama, afeto e o poder de ser visto: "Orgulho e responsabilidade"

O ator, de 22 anos, refletiu sobre o desafio de ser um artista gay em ascensão no Brasil
10/11/2025 16:55
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João Pedro Mariano,(foto: Divulgação/Stella Carvalho)

João Pedro Mariano,

O ator João Pedro Mariano, que já que já havia conquistado a crítica ao protagonizar o premiado filme Baby (2024), voltou a ser assunto nas redes sociais por seu papel como Luka em Tremembé, série do Prime Video. Na trama, ambientada no famoso "presídio dos famosos", ele interpretou o detento que vive um romance homoafetivo com Cristian Cravinhos (Kelner Macêdo), um dos assassinos dos pais de Suzane von Richthofen.

A atuação do jovem artista, de 22 anos, chamou atenção pela retratação de um personagem LGBTQIAPN+ em um ambiente tão preconceituoso quanto no sistema penitenciário. Em entrevista exclusiva ao Observatório G, o ator detalha como foi o processo de pesquisa, os físicos e psicológicos, o impacto da obra para a comunidade e o momento de virada que têm vivido em sua carreira.

Antes mesmo de ter sido aprovado para o papel, João Pedro já havia mergulhado na história real que inspirou a série Tremembé. "Minha pesquisa começou pelos livros do Ulisses Campbell. O personagem aparecia de forma breve, mas me interessava entender quem é essa pessoa que chega em Tremembé e se apaixona por alguém envolvido num crime de tamanha proporção. Fui atrás de traços de humanidade, do que o conectava emocionalmente com aquele universo", diz.

Além da sobrecarga emocional, também houve uma preparação física gigantesca. "Quando eu recebi o briefing do personagem, havia a indicação de que o Luka chegava à prisão com vestes femininas, inclusive montado, de salto. Isso trouxe um novo desafio pra mim, porque eu nunca tinha subido num salto antes. Eu entendi que não se tratava apenas das roupas ou da aparência, mas de como ele se comportava dentro daquele ambiente, de como deixava o feminino aflorar mesmo em meio à brutalidade da prisão", aponta.

João Pedro Mariano em Tremembé
João Pedro Mariano em Tremembé (Foto: Divulgação/Stella Carvalho)

"Vai ter gay dando tiro pro alto, sim"

Ao interpretar um personagem que vive uma relação homoafetiva em um ambiente de encarceramento, João confidencia que se deparou com realidades pouco retratadas na ficção. “Descobri que relações entre homens são muito comuns nas prisões, mas muitas acabam assim que o encarceramento termina. É um amor que nasce num ambiente duro e morre fora dele. Esse contraste entre afeto e esquecimento foi o que quisemos mostrar em Tremembé”, conta.

Para João Pedro, o impacto de Tremembé vai além da polêmica, mas sobre ampliar o olhar do público sobre as masculinidades e os corpos queer. "Traz uma narrativa muito importante pro público LGBT, principalmente pros homens gays. A gente está acostumado a ver histórias de amor entre homens em contextos de liberdade, mas quase nunca em espaços tão hostis. Tem um meme que eu adoro que diz: 'vai ter gay empinando moto, sim, e dando tiro pro alto'. E é isso. Porque esses corpos também existem nesses espaços", ressalta.

Com o sucesso de Baby, e agora da série do Prime Video, João Pedro têm se consolidado como uma das promessas entre os talentos diversos do audiovisual. "Eu me sinto num momento muito bonito da carreira. Claro que é uma fase de visibilidade, de reconhecimento, mas acima de tudo é um momento de responsabilidade. Ser um artista LGBT ocupando esses espaços é entender que cada papel é uma chance de ampliar o olhar do público, de mostrar que nossas histórias cabem em qualquer lugar", destaca.

Cenas quentes e o polêmico fetiche por calcinha

O ator também comentou sobre as cenas quentes com o ator Kelner Macêdo em Tremembé, e que causou forte repercussão. "O meu encontro com o Kelner vem de um lugar muito especial, porque nós dois fomos dirigidos pelo mesmo diretor, o Marcelo Caetano. Tivemos o apoio das preparadoras e da direção, que conduziram tudo com muita sensibilidade. Então as cenas foram nascendo com muito diálogo, e não de um lugar de exposição, mas de verdade emocional", relembra.

Um dos pontos de maior destaque foi o "fetiche por calcinha" associado a Cristian Cravinhos - e que foi motivo de polêmica dentro e fora da ficção até mesmo pelo criminoso da vida real. O choque do público também foi causado sobre o intérprete de Luk, que apesar disto, destaca a precisão do debate sobre fetiches em uma sociedade que mantém tabus sobre sexo e prazer. “Pra ser sincero, quando eu li o livro eu também fiquei chocado com esse fato. Eu não sabia, então minha reação inicial foi parecida com a de muita gente, totalmente em choque", confessa.

"O curioso é ver que, quando esse fetiche aparece num corpo masculino, ele ganha outra leitura, quase sempre atravessada por preconceito. Então é bom que isso gere conversa, porque faz as pessoas pensarem sobre o que ainda é considerado tabu", afirma ele, que, com o impacto da visibilidade alcançada na série, também observou um crescente assédio do público.

João Pedro Mariano e Kelner Macêdo
João Pedro Mariano e Kelner Macêdo (Foto: Divulgação)

Assédio dos fãs

"Eu me divirto horrores com os comentários. Acho lindo o jeito como as pessoas me abordam. Ainda não estou acostumado a receber tanto carinho assim, então é tudo meio novo pra mim. Agora tem sido muito especial também ser reconhecido na rua. Claro que às vezes rolam umas abordagens mais invasivas, o que faz parte desse lugar de exposição, mas eu tento sempre lidar com leveza e respeito", declara João, que atualmente namora o médico João Paulo Nogueira.

Representatividade LGBT+ no audiovisual

Consciente do peso da representatividade, João Pedro Mariano reafirma que seu compromisso maior é com a arte, e traz esse simbolismo de uma nova geração de talentos que promete transformar o audiovisual brasileiro. "O que me move é contar boas histórias. Não quero ser só o ator gay que interpreta personagens gays, mas o ator que vive pessoas complexas, sensíveis e contraditórias. Ainda assim, entendo a importância de ocupar esse espaço. Sei que, de alguma forma, abro caminho pra outros meninos sonharem também. É uma mistura de orgulho e responsabilidade", conclui.

João Pedro Mariano em Tremembé
João Pedro Mariano em Tremembé (Foto: Divulgação/Stella Carvalho)

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