Primeiro presidente assumidamente gay de um clube brasileiro, o ex-goleiro com passagens pelo Grêmio, Bahia e Flamengo Emerson Ferretti, de 52 anos, falou sobre as dificuldades que enfrentou ao longo da carreira, sendo um homem homossexual num ambiente onde a homosexualidade ainda é um tabu.
Em entrevista ao canal TVE Bahia, no YouTube, o ex-atleta contou ao jornalista Bob Fernandes que, quando ele era jogador de futebol, passou anos escondendo sua sexualidade, para sobreviver no meio e tentar se preservar. Inclusive, precisou até mesmo inventar um noivado para se esquivar de perguntas pessoais.
“O processo todo foi muito solitário, desde a adolescência, quando comecei a perceber e entender a minha sexualidade, sem poder falar com ninguém. Nem com a família, nem com os amigos, e muito menos dentro do futebol. Foi realmente muito solitário”, iniciou o presidente do time baiano.
“Precisei esconder esse fato durante minha carreira toda, para me preservar, preservar minha carreira, para sobreviver no meio do futebol. Consegui isso, tanto é que joguei até onde achei que deveria, aos 35 anos”, desabafou.
O dirigente também falou sobre o preconceito no futebol e a luta contra a homofobia dentro de campo, com um homossexual à frente de um dos maiores times brasileiros.
“Essa tomada de decisão aconteceu justamente para jogar luz sobre um assunto que não é conversado no meio do futebol. Mas existem muitos gays, não fui o único e todos eles precisam se esconder, e quando acontece isso com qualquer pessoa de criar um personagem para sobreviver, é muito dolorido, é sofrido”, comentou.
“Então, falar sobre isso e virar uma referência, acredito que ajudará muitos que estão no futebol ou até mesmo garotos gays que pretendem ser jogadores a se aproximar e enfrentar isso […] O caráter, o talento, não se mede pela sexualidade, o fato de ser gay não me impediu em momento nenhum de ser um goleiro que entregasse desempenho nos clubes que joguei”, frisou.
Por fim, o apresentador relembrou o momento em que encontrou com Emerson, na época em que ele ainda era jogador, e ele afirmou que estava noivo de uma mulher, o que não era real. Hoje, ele percebe que foi importante se preservar em uma época onde o preconceito fechava muito mais portas do que nos dias atuais.
“Era um discurso que às vezes era necessário porque existia uma cobrança social muito grande em relação a namoro, casamento, a uma presença feminina do lado. Infelizmente tínhamos que usar esse discurso, era uma das formar que tínhamos para nos protegermos. Muitos atletas gays acabam inclusive casando para afastar qualquer suspeita sobre a sexualidade deles. Isso é muito triste, ter que representar o tempo todo”, lamentou.
Ferretti assumiu sua orientação sexual publicamente em 2022, durante entrevista a um podcast. Atualmente, ele namora o bailarino Jordan Dafner.