PRECONCEITO

Durante agenda, Duda Salabert diz ter sofrido transfobia em clube tradicional de Belo Horizonte

Candidata à prefeita relembrou ameaças a ela e a sua filha; instituição não quis se manifestar

Duda Salabert chora em agenda no Minas Clube, em Belo Horizonte - Reprodução/Instagram
Duda Salabert chora em agenda no Minas Clube, em Belo Horizonte - Reprodução/Instagram

Na última sexta-feira (27/09), a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG), que é candidata à Prefeitura de Belo Horizonte, fez um desabafo emocionado durante um evento no Minas Tênis Clube, espaço de esporte e lazer tradicional da capital mineira.

Em seu discurso, a deputada revelou ter sofrido preconceito e diversas violências físicas, psicológicas e políticas por ser uma mulher trans, afirmando que as experiências de discriminação que enfrentou no clube mineiro foram ainda mais dolorosas do que aquelas vividas durante as campanhas eleitorais.

No encontro, que também foi realizado dias anteriores com outros candidatos, estavam presentes os principais gestores da instituição. A pedetista iniciou sua fala afirmando que não faria como os outros candidatos. “Peço licença porque vou fazer uma fala diferente. Aqui não vai ser uma fala de uma deputada federal, não vai ser uma fala de uma candidata à Prefeitura de Belo Horizonte”, iniciou ela.

“Vou trazer a minha posição aqui enquanto pessoa, um debate muito mais pessoal, existencial e que tem um contorno político, que acho importante ser escutado aqui. Eu digo sempre que a cabeça pensa onde o pé pisa. Então, vou mostrar onde nossos pés estão pisando”, disse.

Com a voz embargada, Duda relatou, inicialmente, já ter sofrido violência de grupos radicais, de diversas partes do país, quando, em 2018, concorreu ao Senado. “Foram milhares de mensagens de ódio. Mandaram mensagens para o colégio onde eu trabalho pedindo minha demissão, só por eu ser quem eu sou”, afirmou.

“Dois anos depois (2020), saio candidata a vereadora. Termino as eleições como a candidata mais bem votada dessa cidade. No outro dia (após as eleições), recebo três ameaças de morte de grupos neonazistas. Falaram que iam me matar e transformar a escola em que trabalho em um mar de sangue”, acrescentou. Por esse motivo, segundo a parlamentar, ela foi demitida do local.

Na sequência, ela relatou que, ao ser sócia do Minas Tênis, enfrentou episódios de transfobia que a levaram a acionar o Ministério Público (MP) devido ao preconceito. “Com o dinheiro que ganhei da demissão, comprei uma cota do Minas Tênis Clube. Eu tenho uma filha de cinco anos e escolhi esse clube para ela se formar, mas o que passei aqui, em níveis de transfobia, sendo necessário o Ministério Público intervir, eu nunca passei na minha vida tanta violência quanto passei aqui”, declarou.

“Dois anos depois (2022), saio como candidata a deputada federal. Foram 45 dias. Nesse período, dezenas de ameaças de morte. Mandaram cartas para meu gabinete, me associaram ao que havia de pior, fizeram site especificamente sobre mim dizendo formas como iriam me matar. Nesse site, colocaram fotos da minha filha, que tem 5 anos, descrevendo formas como iriam estuprar ela na minha frente. Tive que andar com colete à prova de balas, seguranças e carro blindado”, acrescentou.

Mesmo passando por essas situações, Salabert afirmou que o que sofreu em eleições “não se equipara” ao que passou quando era sócia do clube. A deputada federal não detalhou o que de fato ocorreu nas dependências do centro esportivo.

Antes de dar seguimento ao evento, da forma planejada pela organização, a deputada ainda disse que “nossos sonhos não cabem nas urnas”. Após esse momento, Duda Salabert se emocionou e, foi aplaudida de pé, encerrando o discurso. Os diretores do Minas Tênis Clube se aproximaram para consolá-la e expressar desculpas pelo episódio.

Logo depois o evento teve continuidade normalmente, com perguntas do público à candidata sobre seu plano de governo. Por meio de nota oficial, o Minas Tênis Clube disse ao Jornal Estado de Minas que “não irá se posicionar por se tratar de pauta política”.