O médico James Hamilton, de 50 anos, narrou em entrevista à BBC News, uma série de abusos que ele sofreu por 20 anos praticados por um dos principais líderes da igreja católica no Chile, Fernando Karadima, atualmente com 88 anos.
Os abusos sexuais começaram quando ele tinha 16 anos e buscou refúgio na igreja, na época em que o Chile sucumbia perante a ditadura do general Augusto Pinochet, do qual Karadima era um ferrenho apoiador do ditador.
Hamilton foi convidado a participar da Ação Católica, um grupo de jovens que se reunia na paróquia de El Bosque para ouvir o bispo falar sobre heroísmo, os santos e a necessidade de ser humilde em e obediente. Foi nessa época que os crimes começaram.
“Você não esperava isso – era algo totalmente confuso. Não era possível que esse homem santo estivesse fazendo tudo isso por causa de sua perversão sexual. Não era possível”, disse Hamilton. “Uma coisa terrível é que, toda vez que ele abusava de mim, me mandava confessar com outro padre”.
Esse “outro padre” acobertava os abusos praticados pelo bispo.
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As cenas de violência sexual continuaram acontecendo após o médico se casar e constituir uma família com sua esposa, fato que o levou a pedir a anulação do casamento anos depois. Nesse período, ele citou os abusos praticados por Karadima como o principal motivo pela fracasso do matrimônio e a igreja relutou em aceitar.
“Muitas vezes eu tentei me afastar de Karadima, mas, sempre que eu tentava, ele fazia uma espécie de julgamento com dois ou três bispos e três ou quatro sacerdotes. Eles me colocavam em um quarto e diziam que o diabo estava dentro de mim”.
Após o médico conseguir a anulação do casamento e que os detalhes vazaram, que a igreja católica se viu obrigada a investigar o bispo Fernando Karadima.
Como condenação, a igreja determinou que Karadima passasse a viver uma vida de penitência e oração, e o proibiu de manter contato com ex-párocos ou fiéis, bem como de realizar qualquer ato pastoral.
“Eles quase mataram meu coração, minha alma… quando você mata a alma – e eu posso te dizer isso como médico – você começa a matar o corpo. Crianças que foram abusadas viverão 20 anos menos, então o que estamos falando? Eles são criminosos”, afirmou Hamilton.