Diretores de 'Tinta Bruta' analisam a produção do filme, vencedor da principal premiação LGBT mundial

tinta bruta
Cena do filme 'Tinta Bruta' (Foto: Divulgação)

Em entrevista ao HuffPost Brasil, os diretores de Tinta Bruta, Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, falam sobre o processo de produção do longa. A ficção ganhou o principal prêmio do cinema LGBT mundial, o Teddy Award, realizado no Festival Internacional de Cinema de Berlim.

Além disso, o filme dos cineastas gaúchos também conquistou os prêmios de Melhor Filme, Roteiro, Ator e Ator Coadjuvante do Festival do Rio de Janeiro, que ocorreu em novembro deste ano.

Na última quinta-feira (6), Tinta Bruta estreou nos cinemas brasileiros.

O roteiro

Em Tinta Bruta, Pedro (Shico Menegat) é um jovem homossexual que vive em um apartamento no centro de Porto Alegre. Ao mesmo tempo que espera o veredito de um processo em que é réu por agressão, ele ganha dinheiro fazendo performances sensuais na internet.

Somente no espaço online Pedro pode ser ele mesmo, e utiliza tintas neon como forma de expressão. Contudo, quando descobre que outra pessoa está fazendo shows parecidos com os seus e, assim, atraindo seu público, o mundo de Pedro pode mudar drasticamente.

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Na entrevista, Matzembacher e Reolon explicam o porquê de acharem necessário o personagem retratar um ambiente de abandono. “Nós somos de Porto Alegre e faz tempo que sentimos que a cidade tem se tornado um lugar mais hostil para os jovens. Principalmente quando entra na fase adulta, a maioria desses jovens tende a ir embora da cidade”, relatou Reolon.

“Acho que isso é muito reflexo de um olhar que não privilegia o convívio social, a rua, a comunidade. Isso vai fazendo que a cidade vá se enclausurando, vá se fechando… É esse quadro que queríamos retratar no filme. Para nós era muito interessante criar um personagem que sofria de uma síndrome de abandono. Ele vai tendo essas diversas partidas ao redor dele”, continuou Matzembacher.

A política brasileira e o personagem

Diferente de alguns filmes com temática LGBT, Tinta Bruta tem um final esperançoso. Em suma, os diretores explicam que isso é devido à personalidade combativa de Pedro. “O que nos interessava era a jornada psicológica dele, as relações que ele acabava desenvolvendo e como ele reagiria a elas. Para nós era muito importante criar um personagem homossexual que fosse reativo”, disse Matzembacher.

De acordo com Reolon, a situação sócio política do Brasil influenciou diretamente na produção de Tinta Bruta. “Boa parte do processo de escrita do roteiro se deu sobre sentimentos como raiva e desespero”, comentou.

Naturalmente, isso refletiu na construção do personagem principal. “Pedro surgiu na pré ‘era Bolsonaro’, mas com todos os indícios de que isso poderia acontecer. Ele percebeu a importância de estar rodeado de pessoas, e esse misto de afeto e de luta nunca vai deixar de existir para ele. Ele vai resistir”.

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