Ao lado de Caetano Veloso, Daniela Mercury lançou o clipe de Proibido o Carnaval, na terça-feira (5). Na letra da música são feitas diversas referências à comunidade LGBTQ+ e ao governo do presidente Bolsonaro. Em certo trecho, fala sobre “abrir a porta do armário”. Além disso, chega a citar a Rebelião de Stonewall de 1969, que aconteceu contra a violência policial decorrente de homofobia.
Uma parte questionadora da letra é, também, quando a cantora faz referência a uma das falas polêmicas da ministra Damares Alves, que afirmou, durante sua posse, que “menino veste azul e menina veste rosa”.
Em entrevista ao Universa, Daniela Mercury comentou sobre sua percepção acerca do cenário político e social no Brasil. Ao se referir à parte que retruca especificamente a afirmação da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a cantora explicou que essa foi uma maneira de se posicionar.
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“A música já estava pronta quando decidimos incluir essa brincadeira no roteiro [escrito em parceria com a esposa de Daniela, Malu Verçosa, e Jana Leite]”, revelou ela. “Essa foi a forma que encontramos de nos posicionar com ironia contra essa forma inaceitável de colocar as pessoas em caixinhas, limitar o espaço e construir limites tão conservadores. Sinceramente, não me preocupa tanto o que o governo tem ou não tem a dizer sobre as nossas vidas. Nós, enquanto sociedade, temos que pensar como queremos agir, para onde queremos caminhar. É como canta Caetano: “Você tenha ou não tenha medo, nego, nega, o Carnaval chegou“, disse.
A cantora baiana de 53 anos acredita, ainda, que o Carnaval é uma época essencial para o brasileiro. “O Carnaval nunca se fez tão necessário. Quem está desde setembro angustiado com os rumos do país precisa deste momento para colocar para fora essa tristeza, para recarregar as energias. E do jeito que a coisa tá complicada, o Brasil precisaria de uns 12 carnavais, um para cada mês do ano. Quem leva tudo muito a sério, não chega a lugar nenhum. É sobre isso que “Proibido o Carnaval” fala, se permitir colocar para fora tanta angústia, tanto medo“, afirmou.
“Eu não estou sozinha”
Ao ser perguntada se sente medo por conta de ameaças feitas à população LGBTQ+, Daniela Mercury esbanja sua coragem e determinação. “Não tenho medo nenhum. Se tentarem me barrar, vou achar uma brecha. Estou cantando ao lado de Caetano, que foi exilado. Como eu vou ter medo trabalhando do lado de pessoas que viveram a ditadura militar? Enquanto houver democracia, temos como nos proteger. Nós temos um Congresso Nacional funcionando. Podemos fazer críticas a ele, mas o Senado e a Câmara estão ali, de portas abertas. A situação não está legal, mas já esteve muito pior. Além disso, eu não estou sozinha. Eu me sinto protegida pelos meus colegas, pelos mais de 700 artistas que se posicionaram a favor da democracia durante a campanha presidencial, pelo movimento LGBT, pelos meus blocos de Carnaval, pela democracia” afirmou a artista.
Assista Proibido o Carnaval: