A médica sanitarista Adele Schwartz Benzaken comentou sobre a sua exoneração do cargo de diretora do Departamento de ISTs do Ministério da Saúde. A demissão ocorreu no último dia 11, após cinco anos no posto à convite do ex-presidente Michael Temer. Ao UOL, ela acredita que uma cartilha dedicada a pessoas transgêneros foi o motivo para sua saída.
“O que foi citado pelo secretário de vigilância Wanderson Kleber de Oliveira sobre a exoneração foi a cartilha para homens trans. Como era cargo de confiança, eles têm todo direito de procurar outra pessoa, de achar que não tenho o perfil. Quanto à cartilha, ela é super antiga, foi idealizada em janeiro. Em julho, eu estava trabalhando nela de acordo com o próprio ministro da saúde (o antigo).”, contou.
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Questionada se o trabalho com os trans foi a causa da demissão, ela considera não atender as exigências do novo governo. “Acho que fui considerada ‘inadequada’ para este governo. Sou alguém apaixonada pelo que faz, e sei que vou sentir falta do trabalho e dos resultados — eles podem dizer que eu sou inadequada, mas não podem dizer que sou incompetente.”, ressaltou.
A manauense não entende porque a peça foi reprovada pelo novo governo. “Eu realmente não sei. É complicado pensar pela cabeça deles. O que posso dizer é que trabalho com DSTs antes mesmo do surgimento do HIV e da AIDS e que tenho 40 anos de experiência nesta área”, afirmou.
“Ofensas” à família
Sobre a declaração do Ministro da Saúde que mencionou pretender estimular prevenção de ISTs, mas sem ofender a família, a médica não entende o que ele quis dizer com isso. “Não sei o que tem, neste tema, que possa ofender famílias. E na cartilha, não tem palavreado chulo. As coisas são chamadas da forma que realmente são”, defendeu.
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Convite para continuar no governo
Ao contrário da fala do atual ministro e também secretário, Adele garante que nunca ouve um convite oficial para continuar no governo. “O ministro e o secretário ficam dizendo para os repórteres que me convidaram para outro posto, mas não verbalizaram qual seria. Wanderson me perguntou se eu gostaria de ter outro cargo, mas o convite oficial ainda não chegou a mim. Eu sou uma profissional médica que trabalha para o Ministério antes mesmo de existir o departamento.”
“Sou uma servidora do meu Estado, no Amazonas, e eu só pude estar aqui em Brasília por concessão do governo. Isso só acontece quando você tem um cargo comissionado. Agora, volto a ser médica da Fundação de Medicina Tropical de Manaus, dentro da pós-graduação. Mas sempre que o departamento quiser minha colaboração como técnica, não terei problema algum em participar. Me dou muito bem com todos os funcionários. Agora, se eles vão escutar ou não, é outra história.”, continuou.