O primeiro parlamentar assumidamente gay e um dos principais representantes da comunidade LGBT no Congresso Nacional, Jean Wyllys (PSOL) desistiu do mandato. Nesta quinta-feira (24), o ex-deputado federal compartilhou a notícia com seu público. Ele estava cumprindo seu terceiro mandato consecutivo pelo Rio de Janeiro.
Em entrevista exclusiva à Folha de S. Paulo, Wyllys explicou que o que levou a tomar a decisão foram as constantes ameaças de morte que vem recebendo. “Eu já vinha pensando em abrir mão da vida pública desde que passei a viver sob escolta, quando aconteceu a execução da Marielle. Antes disso, havia ameaças de morte contra mim e, curiosamente, não havia contra ela. Mas, quando rolou a execução, tive noção da gravidade. Além dessas ameaças que vêm de grupos de sicários, de assassinos de aluguel ligados a milícias, havia outra possibilidade. O atentado praticado por pessoas fanáticas religiosas.”
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Ao ser perguntado se a eleição do presidente Jair Bolsonaro contribuiu para a decisão, Jean Wyllys destaca que não exatamente. “Não foi a eleição em si. Foi o nível de violência que aumentou após a eleição dele. Para se ter uma ideia, uma travesti teve o coração arrancado agora há pouco. Numa única semana, três casais de lésbicas foram atacados, um deles foi executado. A violência contra LGBTs no Brasil tem crescido assustadoramente. O [ex-presidente do Uruguai] Pepe Mujica, quando soube que eu estava ameaçado de morte, falou para mim: ‘Rapaz, se cuide. Os mártires não são heróis’. E é isso: eu não quero me sacrificar”, lamentou ele.
Futuro
De férias fora do Brasil, o ex-parlamentar preferiu não informar de onde falava. No entanto, contou alguns planos para o futuro. “Eu não vou falar onde estou. Eu acho que vou ate dizer que vou para Cuba”, disse ele, ironizando. “Sou professor, dou aula. Eu escrevo, tenho um livro pra terminar. Eu vou recompor minha vida. Eu vou estudar, quero fazer um doutorado. Quando eu estiver refeito e achar que é a hora, eu volto. Não necessariamente para esse lugar da representação política parlamentar, as para a defesa da causa. Isso eu nunca vou deixar de fazer”, adiantou.
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Para finalizar, Jean Wyllys comentou sobre o mandato do atual presidente do país. “Não tenho nenhuma expectativa positiva em relação a esse governo. O nível de violência contra as minorias aumentou drasticamente desde que esse sujeito foi eleito. As suas relações pouco republicanas já vieram à tona. Dele e de seus filhos. Então, não tenho boas expectativas”, afirmou. “Acho que a saída para a esquerda é a união. Mas, sinceramente, eu não quero mais opinar sobre isso porque estou abrindo mão do mandato justamente para não ter mais que opinar neste momento sobre essa questão. Quero cuidar de mim e me manter vivo”, completou.