Uma das grandes dificuldades de pessoas transexuais é a inclusão no mercado de trabalho. Além do preconceito na sociedade, as oportunidades para trans na indústria são escassas, onde apenas pessoas com passabilidade (características físicas de um indivíduo cisgênero), acabam conquistando uma vaga no mercado de trabalho, sem revelar ser uma pessoa transexual. Além disso, travestis e transexuais acabam não preenchendo as exigências mínimas do mercado, que é de ter no currículo o ensino médio completo.
O portal Observatório G conversou com Ana Luísa, de 26 anos, mulher trans e que entende sobre as dificuldades de se ingressar no mercado de trabalho, além de opinar como os empregadores poderiam lidar com as oportunidades para o T da nossa comunidade LGBTQIA+.
Na sua visão, o mercado de trabalho tem dado as mesmas oportunidades para pessoas trans?
O mercado de trabalho ainda continua muito segregado quando se trata de pessoas trans, principalmente mulheres trans e travestis, que hoje no Brasil, segundo dados do Antra, chega a 90% de mulheres trans e travestis vivendo na prostituição como única fonte de renda. A maioria das empresas quando colocam vagas pra trans ou querem trans com a maior “ passabilidade” possível ou querem qualificações quase impossíveis para pessoas trans ter, pois a maioria não consegue nem terminar o ensino médio, então é muito injusto empresas criarem vagas com tantas exigências.
Os empregadores ainda têm preconceito com pessoas trans?
Com certeza possuem preconceito, pois são pouquíssimas empresas que oferecem vagas destinadas a nós, então a maioria não tem outra forma de sobreviver senão vendendo seu próprio corpo, o que é muito dolorido. A expectativa de uma mulher trans e travesti no Brasil é de 35 anos, para mulheres trans e travestis negras essa expectativa diminui para 33 anos, a falta de emprego consequentemente contribui para a morte precoce de pessoas trans, pois na rua, onde a maioria das mulheres trans e travestis se prostituem, correm risco de vida a todo momento e também sofrem ataques transfobicos diariamente.
Qual a sua sugestão para que o mercado de trabalho seja mais inclusivo com pessoas trans?
Minha sugestão é que as vagas não sejam tão exigentes, pois muitas das qualificações que as empresas exigem é quase impossível de serem atendidas, pois é muito difícil uma pessoa trans conseguir ter um currículo com tanta demanda que essas empresas pedem. Elas poderiam facilitar a entrada das mesmas oferecendo cursos de apoios ou profissionalizantes.
Transgêneros no mercado de trabalho: Os desafios da inclusão
É preciso reafirmar direitos trans recorrentemente. A acessibilidade de pessoas trans no mercado de trabalho ainda é marcada por muitos percalços, por isso a população costuma ser marginalizada e recorrer a atividades como prostituição. Além do mais, iniciativas de inclusão de pessoas trans devem focar na eliminação da hostilidade no ambiente de trabalho e mais oportunidades.
Mas a verdade é que, apesar da crescente evolução do mercado de trabalho em direção ao respeito à diversidade, muitos indivíduos ainda sentem o acanhamento no momento do processo seletivo, entre outras situações – dado o histórico de discriminação sofrido por estes profissionais, diz Dani Verdugo, empresária e headhunter, atua com Executive Search na THE Consulting.
A deputada estadual Renata Souza (PSOL), do estado do Rio de Janeiro, apresentou um projeto de lei que propõe obrigatoriedade, a empresas privadas que recebem incentivos fiscais, de reserva de 5% de suas vagas para travestis e transexuais, deixou claro.
Para o consultor Pedro Sampaio, da Tree Diversidade, o lugar laborativo deve acolher ao máximo. “De nada adianta a empresa contratar pessoas trans, negras, mulheres, pessoas com deficiência se não preparar o ambiente para acolhê-las. Se o ambiente é hostil, elas vão gastar mais energia se defendendo dele do que produzindo”, ressalta.