(foto: Redes Sociais)Rhianna Alves, 18 anos, morreu após levar um golpe de “mata-leão” de um motorista por aplicativo dentro do carro, na Bahia.
Um crime com indícios de feminicídio e transfobia marcou a madrugada do último domingo, 7 de dezembro, em Luís Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia. Por volta de 1h40, a jovem trans Rhianna Alves, de 18 anos, natural de América Dourada, foi encontrada morta dentro de um veículo Volkswagen Fox azul. A morte precoce da jovem, que começava a trilhar uma carreira como influenciadora digital e já mantinha parceria com uma marca local, gerou comoção e revolta na comunidade LGBTQIA+.
De acordo com informações da Delegacia Territorial de Luís Eduardo Magalhães, o autor do crime, identificado como S. H. L. S., de 19 anos, procurou espontaneamente o Plantão Central da Polícia Civil e confessou ter matado Rhianna por estrangulamento. Em depoimento, afirmou que a jovem teria ido até Barreiras para realizar um programa e que os dois iniciaram uma discussão ainda na cidade vizinha.
O motorista de aplicativo relatou que decidiu retornar com Rhianna para Luís Eduardo Magalhães, onde ela morava. Já próximo à residência da jovem, uma nova discussão teria começado. Ele alegou à Polícia Civil que Rhianna o teria ameaçado e dito que “arruinaria sua vida”, além de insinuar que o acusaria de estupro. Segundo o depoimento, ao acreditar que ela pegaria algo na bolsa, ele reagiu com uma cotovelada no rosto da vítima e aplicou um golpe de “mata-leão”, que provocou o estrangulamento.
O autor contou que tentou reanimar a jovem, mas não conseguiu. Em seguida, dirigiu até a delegacia levando o corpo de Rhianna no próprio carro. O SAMU confirmou o óbito. O Departamento de Polícia Técnica (DPT) realizou perícia no veículo e encaminhou o corpo ao IML, onde foi feito o exame de necropsia.

O caso ganhou ainda mais repercussão após a liberação do autor, que mesmo confessando o homicídio consumado, não teve flagrante lavrado. A apresentação espontânea foi usada pela autoridade policial para concluir que não havia situação de flagrância. O jovem deixou a delegacia acompanhado de sua advogada.
A decisão provocou forte indignação entre ativistas e especialistas em direitos da população LGBTQIA+, que apontam o episódio como reflexo da desigualdade estrutural e da forma como corpos trans, negros e periféricos são tratados pelo sistema de Justiça no Brasil.
Em entrevista exclusiva ao Observatório G, o advogado Ives Bittencourt, do escritório Abreu & Bittencourt, especializado em causas LGBTQIA+, afirmou que a liberação do autor evidencia privilégios sociais. Ele declarou que considera improvável que uma travesti, chegando à polícia com o corpo de um homem que tivesse acabado de matar, fosse liberada imediatamente apenas por colaborar com a Justiça. Para o advogado, a justificativa de legítima defesa apresentada pelo acusado é desproporcional, especialmente ao considerar que ele seria praticante de lutas e que a vítima era uma jovem de apenas 18 anos. Bittencourt classificou o episódio como reflexo claro de uma sociedade transfóbica.

O especialista explicou ainda que, embora a lei permita a liberação em casos de apresentação espontânea, essa prática raramente alcança pessoas negras, trans, pobres ou periféricas. Segundo ele, o autor foi beneficiado por “recortes evidentes de privilégio”.
Rhianna Alves era descrita por amigos e familiares como uma jovem alegre, sonhadora e determinada a construir um futuro como influenciadora. Sua morte se soma a um cenário alarmante de violência contra pessoas trans no Brasil, país que segue liderando o ranking mundial de assassinatos de pessoas trans.
Organizações LGBTQIA+ e defensores dos direitos humanos pedem rigor, transparência e celeridade na investigação. O caso continua sob responsabilidade da Polícia Civil.
Enquanto isso, a comunidade LGBTQIA+ e a família de Rhianna lutam para que o crime não seja invisibilizado, exigindo justiça, respeito e proteção às vidas trans.
Dados do Grupo Gay da Bahia (GGB) reforçam a gravidade da situação. O relatório de 2024 registrou 102 assassinatos de pessoas trans no país, sendo 96 travestis/mulheres trans e 6 homens trans, além dos casos não notificados.

