Sabemos que a população transgênero possui um histórico frequente de experiências ruins no que diz respeito ao acesso ao sistema de saúde tanto público quanto privado. Dentre os principais pontos, destaco o medo da rejeição, do desrespeito, do preconceito e da violência somado à falta de capacitação dos profissionais sejam eles da área de saúde, da área administrativa ou equipe de apoio. Há uma demanda cada vez mais urgente de políticas públicas para salvaguardar os direitos dessa população tão negligenciada.
Existe um público trans que não é inexpressivo na sociedade. Mundialmente a prevalência de pessoas trans é de 25 milhões e no Brasil o número estimado é de 752 mil. Atualmente o nosso país dispõe de apenas 11 centros habilitados para o processo transexualizador com uma variação de dinâmica de fluxo de acordo com cada região, porém mesmo nestes locais ainda encontram-se dificuldades no atendimento adequado. Nos próximos artigos vou descrever de forma mais detalhada como funciona esse atendimento no Rio de Janeiro.
Penso que o atendimento começa no primeiro contato com o profissional seja ele médico, enfermeiro, técnico ou recepcionista. O mesmo deve ter um olhar sem julgamento independente do seu tom de voz, do tipo de cabelo, da sua vestimenta ou do seu comportamento. O respeito ao nome social é de extrema importância, devendo ser a primeira abordagem a ser realizada: “você possui nome social?” Assim, a pessoa se sentirá acolhida e respeitada como ela verdadeiramente é. Uma informação importante é que não é necessário ter nenhum documento oficial para a utilização do nome social nos registros do sistema de saúde, bastando a auto-declaração.
Após anos atendendo pessoas trans tanto no sistema público quanto privado, vivenciando histórias de luta, persistência e superação, entendo a importância de existirem profissionais bem preparados para acolher, acompanhar e atender às principais demandas desse público. Avançamos em relação à criação de centros de atendimento, conquistas de direitos e espaços, porém há um caminho longo pela frente. Diante desse cenário, desenvolvi juntamente com a Dra. Karen de Marca (IEDE) um curso chamado “Treinamento Básico para o Atendimento de pessoas Trans” disponível na plataforma de ensino INLAGS que aborda diversos aspectos da abordagem da população trans.
A partir de agora iniciarei uma jornada de descobertas e divulgação de informações com confiabilidade de uma forma leve e com uma linguagem simples que possa contribuir para toda a população que tenha interesse no assunto saúde no contexto do público LGBTQIA+. Será um canal para que eu possa transmitir o meu conhecimento, experiência e reflexões. Espero que gostem.