LENDA

Aos 83 anos, Ney Matogrosso fecha o Rock in Rio com chave de ouro; relembre sua estreia no festival de música em 1985

O cantor e compositor apresentou show de Bloco na rua neste domingo (22/09) após sua performance no último sábado (21/09), durante o Dia Brasil no segmento Pra Sempre MPB

Ney Matogrosso no Rock in Rio 1985 - Reprodução/YouTube
Ney Matogrosso no Rock in Rio 1985 - Reprodução/YouTube

Neste domingo (22/09), Ney Matogrosso, de 83 anos, retornou ao palco do Rock in Rio 2024, após performance no último sábado (21/09) no segmento Pra Sempre MPB. O evento acontece quase quatro décadas após abrir a primeiríssima edição no festival de música em 1985. Na ocasião, ele entrou com o corpo coberto de purpurina dourada e uma pena de gavião-real na cabeça.

No entanto, com a plateia cheia de metaleiros, ele chegou a levar ovadas durante a performance. Nesta edição de 40 anos do festival, neste domingo, a galera recebeu o cantor e compositor de forma bem mais receptiva e calorosa. Ney trouxe o já conhecido show Bloco na Rua, que traz alguns clássicos da música brasileira no palco Sunset, o segundo maior do evento de Roberto Medina.

Sem dúvidas, o músico vestido com o icônico macacão dourado coberto por purpurina continua em boa forma. Dançando e cantando, a sua voz não falha e as músicas saem perfeitas, caminhando por agudos cintilantes e graves delicados.

O artista performático entregou tudo e mostrou o repertório com o qual vem fazendo turnês nos últimos anos, começando com a música homônima de sua turnê, passando por Jardins da Babilônia, conhecida na voz de Rita Lee (1947-2023), deixando todos emocionados, Já sei, de Itamar Assumpção (1949-2003) e O Beco, com os Paralamas do Sucesso. Já em Pavão Mysteriozo, sucesso dos anos de 1970, arrancou gritos da plateia com celulares para registrar a faixa.

Depois de A Maçã, ele ouviu declarações de amor do público. “Ney, eu te amo”, foi repetido várias vezes ao longo da apresentação, Matogrosso respondeu com simpatia, sem nunca perder a elegância conhecida durante toda a sua trajetória artística.

Na sequência, ele cantou Yolanda, de Chico Buarque, Postal de amor, Já que tem que e O Último Dia, de Paulinho Moska e injetou energia no público com uma versão rock and roll de Sangue Latino.

Antes de sair do palco, ele anunciou o fim da apresentação. “Eu não ia falar, mas eu vou falar. Oficialmente o show acaba aqui”, disse para a plateia, que pediu bis em coro. “Aí, eu ia sair, vocês iam me chamar e eu ia continuar. Então, eu proponho eu não sair e já faço tudo”, acrescentou.

E cantou junto com o público com os braços para cima os hits Poema, Balada do Louco e Pro Dia Nascer Feliz, de Cazuza (1958-1990), que estava naquele seu primeiro Rock in Rio. Não á toa, Ney está sacramentado na história do festival de música e não é difícil entender por que a lenda continua lotando estádios – como fez no Allianz Parque, em São Paulo, neste ano com o show Bloco na Rua – Ginga pra Dar & Vender, que faz parte da sua turnê Bloco na Rua. É o Ney sendo Ney.

Vale destacar, que Ney Matogrosso foi um dos três nomes que participaram da estreia do festival de música e que estiveram na edição comemorativa de 40 anos na Cidade do Rock, ao lado dos grupos Paralamas do Sucesso e do Barão Vermelho.

Estreia no Rock in Rio

Em 11 de janeiro de 1985, uma sexta-feira, Ney Matogrosso fez uma performance marcante, de pouco mais de uma hora, na primeira edição do Rock in Rio, para um público de cerca de 175 mil pessoas na Cidade do Rock. Com uma carreira já consolidada por mais de uma década, ele subiu ao palco às 18h de forma suntuosa, com o corpo coberto de purpurina, vestindo uma tanga de pele de onça e um adereço na cabeça feito de penas de um gavião-real, além de uma maquiagem carregada nos olhos.

“Eu tinha necessidade de me expressar com liberdade. Nunca quis o lugar de uma mulher, sempre fui um homem transgressor. Um homem que gosta de ser homem, mas que nem por isso fica restrito. E eu nunca respeitei limites mesmo. Sei que várias vezes estive na beira do ridículo, mas nunca caí no ridículo”, disse ele no documentário Rock in Rio – A História, disponível no Globoplay.

Sua entrada foi ao som da canção América do Sul, nada mais apropriado para inaugurar o maior festival de música da América Latina. “Tenho orgulho de ser da América Latina, tenho essa consciência de que sou latino-americano. Nós, brasileiros, não temos. A gente só olha para América do Norte”, destacou.

No entanto, a apresentação não aconteceu como esperada. Durante o show, alguns roqueiros que aguardavam, naquela mesma noite, as bandas de heavy metal, como Whitesnake, Iron Maiden e Queen, começaram a vaiar e atirar coisas no cantor e compositor.

“Eram centenas de milhares de pessoas… Umas 10 pessoas começaram a jogar ovos cozidos, com a casca. E eu chutava de volta em cima deles. Eu que não vou levar desaforo, né? Queria estar representando um pensamento dentro daquilo”, afirmou.