MELHOR IDADE

Sim, estou velho. Serei um idoso LGBT e esta tudo bem!

Ele tinha 24 anos, fazia programa e atendia gays velhos, meses antes de se matar me confidenciou que tinha pavor de envelhecer.

VELHICES LGBT - Fabricio Viana
VELHICES LGBT - Fabricio Viana

Etarismo é o nome dado ao preconceito, intolerância ou discriminação contra pessoas com idade avançada. Isso já é, infelizmente, algo que presenciamos naturalmente em nossa sociedade. Sim, se você passar dos 40 anos e procurar emprego, tiver um bom currículo, dependendo da sua área, é muito provável que até o mercado de trabalho te deixará de lado: exatamente por ter muita idade e/ou experiência. O que é triste, mas que acontece, e muito.

Se você for homem e gay, a situação piora um pouco mais. Afinal, parece que a pressão se multiplica. Baladas, lugares de pegação, tudo começa a dizer não, gradativamente, pra sua existência. E é nesse lugar terrível que muitos tem medo de vivenciar. Outro dia mesmo li um comentário em alguma rede social de que um garoto procurava seu sonhado suggar daddy. Ou o velho rico da lancha, como preferir. Que bastava ser velho que o cara teria algum dinheiro sobrando. Que conseguiria bancar o outro. Na verdade, não. Lembro que meu primeiro projeto na web, o ArmárioX (site que ajudava as pessoas a “sairem do armário”, hoje off-line), me colocou essa questão logo no íncio. Um dos leitores daquele site tinha 69 anos e apareceu em um encontro presencial no meio de vários adolescentes e jovens queixando-se que era um senhor gay, sem trabalho, sem renda, esquecido pela família, pelos amigos LGBTs e sem perspectiva do que fazer. Eu, que era jovem naquela época, sequer tinha conhecimento que pessoas mais velhas e LGBTs passavam por esta situação. De que nem todo velho, tinha, de fato, uma lancha. Muitos nem tem onde morar, na verdade. Anos depois conheci a brilhante ONG Eternamente Sou, que apoia pessoas LGBTs na melhor idade exatamente como ele. Se você não conhece, recomendo por curiosidade mesmo.

Mas essa questão era, também, o que norteava meu amigo de 24 anos, que fazia programa com gays velhos e meses antes de se matar me confidenciou que tinha pavor de envelhecer. E o pavor dele era tanto que ele realmente não se via dentro deste processo de “começar a ter rugas, limitações, restrições físicas, etc” e que fazem parte do nosso processo de envelhecimento.

E o medo não era só dele. É realmente de muitos de nós. Outro amigo, cinquentão hoje, me mandou mensagem dia destes com uma “crítica construtiva” pros meus vídeos no Youtube, falando “Fabrício, quando você for gravar novos vídeos no seu canal, não franze tanto a testa. Mostra muito suas rugas e marcas de expressão”. Minha resposta foi automática, eu falei, “Sim, mas não se preocupe com isso, eu estou velho! Eu sou assim. E ficarei mais com o passar do tempo. E está tudo bem! Ta bom?”. Agradeci e depois me lembrei que a preocupação com o envelhecer, de não se sentir bem, de não se sentir gostoso, era dele, não era minha. Nestas horas minha escuta psicanalítica grita. Mas como não sou o psicanalista dele, eu analiso, guardo e sigo em frente. Separando sempre o que é meu, e o que é do outro.

Mesmo porque, por ter escrito vários livros, trabalhando muitos anos na área de comunicação da maior Parada LGBT do mundo, entre outros trabalhos notórios ou até premiados, além de ter facilidade de entrar nas questões de sexualidade e sexo (sim, não só tenho livros de contos eróticos mas também criei um perfil no Onlyfans e Privacy com meu conteúdo íntimo: olha o nível de estar bem consigo mesmo!) eu devo dizer que estou envelhecendo e me tornando um tiozinho muito, mas muito, muito gostoso mesmo. Não que eu esteja me sentindo, nem me acho tudo isso. Afinal, o “me tornando muito gostoso” é por minha conta mesmo! E isso é o que importa. Logo, quero dizer que sim, é possível envelhecer bem, e muito bem com você mesmo. Pois eu estou realmente fazendo isso. Passando por isso.

Então, dos vários preconceitos que já sofri na vida pelas várias escolhas que fiz: ser gay, ser não monogâmico, ser poliamoroso, escrever livro erótico (além de vários não eróticos e premiados), ter perfil adulto, entre outros… acredito que esse é só mais “um” preconceito que a gente começa a agregar neste processo. E como todo os outros, você para e pensa “dane-se”. Tem gente que curte coroa, que é o que estou me tornando. E tem gente que não curte. E tá tudo bem. Vamos focar em quem curte a gente. Vamos dar atenção pra pessoas que me seguem e me compartilham. Que é exatamente o que tenho feito e o que tem me trazido muito retorno. Especialmente entre muitos novinhos que curtem Daddys.

Entendem? Portanto, existe sim, saídas. Existem sim, formas. Existem, sim, possibilidades.

Basta querer. Basta focar. Basta existir. Resistir. Persistir. E sempre com amor. Sempre com leveza. Usando e abusando do melhor presente que ganhamos nessa fase. Um presente incrível chamado MATURIDADE.

Então, se você tem a mesma idade que eu atualmente, 45 anos. Ou mais. Sabe do que estou falando.

Essa é a hora de nos curtir e de nos compartilharmos. Da melhor forma possível.

Por Fabrício Viana*

*Fabrício Viana é Jornalista (MTB 80753/SP), Psicanalista Junguiano e Escritor LGBT premiado . Para ler seus 8 livros (digitais ou físicos), acessar seu Onlyfans+18, Youtube, agendar uma Terapia Online LGBT, adicionar nas redes sociais ou entrar em contato, CLIQUE AQUI.

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