Para quem não sabe, o estoicismo é uma corrente filosófica pautada, sobretudo, pela lógica. Todo sistema de ideias apresenta alguns pilares para sustentar suas premissas. Com o estoicismo não é diferente. O lema é viver e aceitar suas derrotas, triunfos, potencialidades e deficiências. Lapidar a si mesmo “jogando fora” o que causa o sofrimento desnecessário. Ninguém aqui vai trazer um manual de como viver bem a vida, como se fosse fácil ser demitido, ser traído, perder um grande amor para a morte, que é indeclinável. Mas sim, mostrar que a vida é difícil, mas dificultamos este processo quando não depositamos valor ao que realmente importa, visto que tudo, absolutamente tudo, é transitório.
Zenão de Cício, fundador do Estoicismo, escola filosófica da qual fazia parte também Sêneca, Cleantes, discípulo e sucessor de Zenão foram assertivos em suas observações. Outro que trouxe contribuições magistrais foi Epicteto. Claro que, como qualquer ideia, o estoicismo é passível de questionamentos. Mas o bacana é extrair o que for contributivo para a vida.
Quando você prioriza o interno, ao passo que o externo torna-se apenas uma trivialidade, você aceita seus desacertos e busca a evolução pessoal sem se massacrar. Você entende que somos humanos e falíveis, logo, alguns acontecimentos simplesmente merecem ser descartados.
“Nós temos o poder de não ter opinião sobre algo e não deixar que prejudiquem nosso
estado de espírito — porque as coisas não possuem poder natural para moldar nossos
julgamentos”, disse Marco Aurélio, o imperador filósofo. Isto é, uma ofensa, por si só, não terá dano nenhum se você não deixar que ela perfure a sua autoestima. Sim, é difícil. É preciso um exercício diário e muita vigilância para chegar até um estado de imperturbabilidade da alma.
“As coisas não possuem valores morais intrínsecos. Elas são o que são, nunca algo bom ou ruim — isso é a nossa percepção que define”, disse Marco Aurélio. O ângulo pelo qual você olha pode ser mais importante – ganhar ou perder, muitas vezes, é relativo.
“A vida, se bem empregada, é suficientemente longa e nos foi dada com muita generosidade para a realização de importantes tarefas. Ao contrário, se desperdiçada no luxo e na indiferença, se nenhuma obra é concretizada, por fim, se não se respeita nenhum valor, não realizamos aquilo que deveríamos realizar, sentimos que ela realmente se esvai”. A vida pode ser longa se aproveitarmos sua dádiva com menos reclamações e mais agradecimentos. De forma realista, porém esperançosa, afinal tudo passa e as adversidades nos elevam.
Epicteto
“Das coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não. São encargos nossos o juízo, o impulso, o desejo, a repulsa ― em suma: tudo quanto seja ação nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos ― em suma: tudo quanto não seja ação nossa”, diz o Manual de Epicteto.
Quando você se preocupa demasiadamente com a opinião do outro, você está dando valor ao que não compete a você. A resposta do outro não é encargo seu, a sua pergunta sim. A percepção do outro sobre você, não é o seu encargo, já o seu olhar sobre si mesmo é. Quando comparamos nossa vida com outras realidades, estamos a caminho do precipício, e anulamos, também, o princípio de individualização. Além do mais, as mídias sociais representam um acoplado de mentiras.
“Se queres progredir, conforma-te em parecer insensato e tolo quanto às coisas exteriores. Não pretendas parecer saber coisa alguma”. Entenda que o excesso de cobrança e a necessidade de parecer sempre alguém interessante só vai causar sofrimento desnecessário. A sua diva pop, seu ídolo, sua maior admiração são como você: frágil, vulnerável, repletos de defeitos e inseguranças. Mesmo tendo mais dinheiro e fama, o interno, caso não seja trabalhado, torna-se cada vez mais miserável. Evolução é um processo inesgotável.
Relações não são infindáveis
A vida é dinamismo e efemeridade. As relações seguem este mesmo caminho. Durou 20 anos e acabou? Isto é mais comum do que você pensa. As paixões mudam, e o conceito no budismo da impermanência acabará vindo à tona, o jeito é aceitar. Por mais que a relação seja duradoura, mudará a sua forma com o tempo, aliás, as pessoas mudam, nós mudamos.
Por ora, o ideal é parar de buscar a perfeição inalcançável e se concentrar em si mesmo. Olhar para si e empatizar com o outro sim. Muita gente qualifica o estoicismo como uma corrente egoísta e impassível, mas talvez esteja fazendo uma leitura grosseira.
De fato, quando olhamos mais para dentro de nós julgamos menos os outros. Aprendemos com o outro e intensificamos nossas habilidades. Buscamos evoluir sem cobrança e não sofremos à toa, senão fica impraticável atravessar os dias.
“Toda a vida é uma escravidão. É preciso, pois, acostumar-se à sua condição, queixando-se o menos possível e não deixando escapar nenhuma das vantagens que ela possa oferecer: nenhum destino é tão insuportável que uma alma razoável não encontre qualquer coisa para consolo”. (Da Tranquilidade da Alma, Sêneca).