Depois do sucesso de Querido ex, que vendeu mais de 10 mil exemplares e ficou 100 dias seguidos no topo dos mais vendidos na categoria LGBTQ+ da Amazon, a Editora Galera Record lança sua sequência Maldito ex, a autobiografia da subcelebridade mais odiada do Brasil.
É o segundo romance do escritor Juan Jullian e nesta continuação de Querido ex, o leitor conhece a história de Tiago, o polêmico ex. Em entrevista ao Observatório G, o autor fala sobre o processo criativo da obra e avalia o panorama geral do cenário literário para autores LGBTs.
Eu escrevi o “Querido Ex”aos 20 anos. Eu tinha acabado de sair de um relacionamento abusivo e o processo de escrita foi extremamente catártico. Ao longo de 3 meses eu sentei todos os dias na frente do computador e coloquei no papel as minhas frustrações e sentimentos em relação ao meu passado. Dessa forma, em cada capítulo a ficção ia se misturando com a realidade, chegando ao ponto de eu utilizar quase que integralmente uma carta que eu escrevi para o ex-namorado da vida real dentro do livro. Isso me rendeu algumas mensagens revoltadas de ex-namorados mas também gerou um trabalho extremamente pessoal e do qual me orgulho justamente por ser tão cru e passional.
Já no “Maldito Ex”o processo foi mais consciente e menos subjetivo. Como o livro é protagonizado pelo Tiago, o ex abusivo do primeiro livro, eu me vi em um exercício denso de entender esse personagem para conseguir contar a história dele. Afinal, eu precisava escrever sob o ponto de vista de um personagem que tanto eu quanto os leitores aprenderam a odiar. Antes de cair na escrita, passei alguns meses desenhando e escaletando a história e estudando esse personagem, buscando referências em obras que foram de Malevóla até o Lobo de Wall Street, passando por algumas horas de entrevistas de ex-participantes de reality show.
Autores LGBT
Acho que estamos sendo testemunha de um movimento inédito de popularização de narrativas escritas por autores LGBTQIA+ e que trazem protagonismo para as nossas experiências e vivências. Seja no TikTok, na lista dos mais vendidos ou nos rankings da Amazon, é cada vez mais comum encontrar nomes como Clara Alves, Maria Freitas, Vinicius Grossos, Aiden Thomas, David Levithan, Becky Albertalli, assim como o próprio “Querido Ex”, que chegou a ficar mais de 100 dias seguidos em primeiro lugar na lista LGBT da Amazon Brasil. Porém, ainda existe um gap muito grande entre a quantidade e a pluralidade de narrativas queer encontradas na produção literária independente e naquelas que chegam nas grandes casas editoriais e estantes de livrarias. A quantidade esmagadora de autores LGBTQIA+ que alcançam esses espaços das publicações tradicionais são cisgêneros, brancos e homossexuais. Narrativas e autores que pautam experiências de pessoas pretas, pessoas trans, assexuais e bissexuais penetram esse lugar de forma ainda mais discreta, enquanto nas plataformas de autopublicação e pequenas editoras eles já figuram de forma mais expressiva.
Essas vozes estão aí, essas histórias existem e acho que só agora as grandes casas editoriais começam a olhar para elas. Quanto à visão da sociedade, tivemos um exemplo perfeito na Bienal de 2019, quando, após a tentativa de censura do Marcelo Crivella, os títulos LGBTQIA+ tornaram-se alguns dos mais procurados, em uma clara resposta a violência do então prefeito. É claro que ainda existe um longo caminho a ser percorrido, seguimos sendo um dos países que mais assassina pessoas LGBTQIA+ no mundo mas acredito muito no poder da prática diária, das pequenas revoluções que fazemos todos os dias e como boas histórias podem ser nossas grandes armas na tentativa de promover respeito e empatia. É por acreditar nisso que eu escrevo.