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Linguagem neutra deixa pauta LGBT inacessível e ajuda Bolsonaro

Com a desaprovação popular da linguagem neutra, Bolsonaro usa isso de munição

Escola
Escola (Ilustrativo)

A língua portuguesa, primeira língua oficial do país, transmite uma forma binária de se referir a tudo, o que fez com que pessoas que se distanciam desta identificação optem por outros tipos de linguagens. A não-binariedade pode trazer sujeitos fluídos, que transitam entre o feminino e o masculino, por isso grande parte dos não-binários aceita todos os pronomes, ou pode trazer sujeitos que não se tipificam nos espectros binários – masculino e feminino, estes costumam reivindicar o “elu e delu”.

Lembrando que linguagem neutra é diferente de propor uma comunicação mais inclusiva. Uma comunicação inclusiva seria aquela que busca passar a informação para todas as pessoas. Por exemplo, dizer que, além das mulheres cis, homens trans também têm vagina. Não se esquecer de pessoas trans em campanhas, etc.

Já a linguagem neutra parte da premissa de que existe uma opressão na língua que compõe uma estrutura, este domínio de um em detrimento de outro costuma ser chamado de sexismo. Mas na verdade, a origem desse uso estaria no latim. O que é visto como gênero masculino, na verdade é um gênero neutro. Por exemplo, em vez de falar todos e todas, você só fala todos.

Teóricas feministas já propunham mudanças nesse sentido na língua. Monique Wittig, escritora francesa e Judith Butler, da teoria queer, são exemplos.

Os não-binários vindicam o neutro. Na prática, a proposta é usar E como desinência nominal para as palavras que admitem flexão de gênero. “Fulana é minhe amigue”, por exemplo. O que ficaria bem complexo de implementar nas escolas e em documentos oficiais. O mais indicado seria o respeito à identidade do sujeito e optar por palavras naturalmente neutras, como estudante, em vez de aluno ou aluna.

História

Recentemente, a Japanese Airlines (JAL), companhia aérea sediada no Japão, anunciou que irá abolir o termo “senhoras e senhores” do chamamento de seus voos. Air Canada e EasyJet, por exemplo, mudaram para saudações de gênero neutro no ano passado.

Dentro de um contexto passado, diversos povos originários da América do Norte reconhecem identidade de gênero não-binárias.  Two Spirit (Dois Espíritos); Muxes y Nguiu’, sujeitos pertencentes ao terceiro gênero do povo Zapoteca, no istmo de Tehuantepec, no sudoeste do México; os Incas reverenciavam o Chuqui Chinchay, divindade que incorporava os gêneros masculino e feminino, dentre outros.

Alguns ativistas não-binários entendem que David Bowie também pode ser um exemplo, mas na verdade ele quebrava estes paradigmas de gênero – performances atribuídas às mulheres e homens – de uma forma mais artística, não era uma identidade consolidada na qual ele reivindicava o tratamento neutro.

Linguagem

Do ponto de vista dos estudos linguísticos, conforme já entrevistamos alguns especialistas, quando falamos de uma língua, estamos falando de algo que tem, pelo menos, duas dimensões: uma estrutural – formada por sons, palavras, frases, que pode ser representada pela fala ou pela escrita, conhecida pelo senso comum como gramática; outra que é a do uso da linguagem para expressar emoções, ideias, etc. Mesmo que a língua tenha as suas regras específicas, mudanças acontecem naturalmente, já que a língua é viva e a comunicação é tornar comum. Isto é, nada impede que coloquialmente alguém incorpore o elu e delu em sua forma de falar, o que não pode é institucionalizar, de maneira impositiva.

Mesmo a linguagem neutra não sendo uma reinvindicação unificada em pautas LGBT+, acaba sendo atrelado e, automaticamente, cria-se uma bolha, já que este tipo de linguagem é muito inacessível para as pessoas.

Além do mais, sabendo da desaprovação popular com esta forma de falar, Bolsonaro e portais bolsonaristas já vêm se aproveitando disso. Eles deixam este tema maior do que ele realmente está, com o intento de recorrentemente colocá-lo em pauta.

Bolsonaro, que não se apresenta como um exemplo de líder ético e competente, já vem fazendo isso em entrevistas. Nas perguntas, ele puxa para este assunto, principalmente para desviar a atenção do povo de temas mais importantes. Ele quer mostrar que é o único capaz de “combater” tudo isso. E as pessoas, como são pouco informadas, acreditam mesmo que, se alguém não fizer algo, logo o oficial será o todes e o elu.

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