A postagem anterior levantou como o banheiro sem gênero é usado como plataforma política para grupos transfóbicos. Não por acaso, habitualmente ligados a partidos da direita. A razão básica pela qual o banheiro agênero seria uma ameaça é o temor das pessoas transvestegêneres serem predadores sexuais. Mesmo na adolescência.
O temor é o mesmo quando se trata de definir banheiro masculino e feminino pela autodefinição de gênero, e não pela genitália. Afinal, a família e as crianças precisam ser defendidas.
A questão que um grupo de pesquisadores de debruçou foi: a quem o banheiro ameaça, verdadeiramente?
O Estudo
Que a população transgênere é submetida a diversas formas de violência com repercussão sobre a saúde mental e física é fato aceito na literatura médica. A violência física, assassinatos, aumentaram segundo o último levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA). Também é conhecido que pessoas que pertencem a grupos minoritários são sexualmente vitimizados. As chances dessas pessoas de sofrerem uma das formas de violência sexual é estimada de 47 a 50%.
O impacto sobre a saúde de adolescentes que sofreram violência sexual já foi levantado em estudos científicos. Depressão, distúrbio de estresse pós-traumático, abuso de drogas, alterações alimentares (obesidade e bulimia) e violência sexual adicional.
Quais são os fatores de risco para a violência sexual? As escolas podem tomar parte nesta espiral de desumanização? Restringir o acesso ao banheiro feminino para as meninas trans e ao masculino para os meninos trans tem impacto na violência?
O que foi encontrado
A equipe pesquisou, através de questionários on line, as respostas de 3653 estudantes transvestegêneres. Violência sexual ocorreu com maior frequência nas escolas que não permitiam o livre acesso a banheiros e vestiários. Ou seja, naquelas escolas onde a genitália determinava a escolha, e não o gênero autoidentificado.
A comparação com adolescentes cisgêneres (não transgêneres) mostrou que ser trans significa 25,6% a chance de sofrer violência sexual. Adolescentes cis femininas têm 15% e cis masculinos 4%. Meninos tras têm 1,26 vezes mais chances de serem molestados. Adolescentes não binários de aspecto feminino 1,42 vezes. Meninas trans, 2,49 vezes.
Uma das razões levantadas pela equipe autoral foi que a restrição dos banheiros e vestiários força a identificação de ser trans. Avaliando este ponto, ela percebeu que colegas saberem da identidade trans não aumentou o risco. Ou seja, saber que alguém oculta o fato de ser trans estimula a violência.
Voltando ao seu medo
O medo apontado por parte da classe política de que pessoas trans são uma ameaça não tem pé na realidade. É um falso argumento. É uma mentira. O que foi demonstrado é que quem é uma ameaça sexual, que se comporta como predador sexual, é a população cisgênera. Adolescentes transvestegêneres é que são as vítimas de adolescentes cis! Não as pessoas agressoras.
Onde estão os estudos apontando que banheiros para todos os gêneros favorecem a agressão sexual? Onde estão os boletins de ocorrência?
Até o presente, o que está óbvio é que adolescentes, trans e cis, são protegidos pela existência de banheiros para todos.
Como diz a campanha da ANTRA, “liberte meu xixi”.