Descobertas

Diretora de marketing da L'Oréal revela sobre descoberta da bissexualidade na fase adulta

Em entrevista, Squeo compartilha detalhes do livro, quais foram as inspirações por trás do processo criativo, as conexões com a profissão de escritora

Miriam Squeo, diretora de Marketing da L’Oréal Paris
Miriam Squeo, diretora de Marketing da L’Oréal Paris

Nascida no Sul da Itália, mas com alma brasileira, ela descobriu a bissexualidade aos 30 anos: e foi principalmente no Rio de Janeiro que pôde viver a liberdade emocional que tanto precisava para experienciar um amor livre de preconceitos. Esta é a Miriam Squeo, Diretora de Marketing da L’Oréal Paris e autora do romance sáfico Por trás dos meus cabelos, uma obra baseada nas próprias experiências que ajuda outras mulheres bi a empoderar-se, cultivar o amor-próprio e se autodescobrirem.

Sempre senti falta de representatividade de mulheres maduras na literatura LGBTQIAPN+, não tinha narrativas reais para refletir sobre a descoberta sexual na vida adulta. Digamos que esta história é profundamente autobiográfica, pois quis trazer as minhas vivências para que elas se tornem referência para outras mulheres, referências que eu mesma não tive no meu processo de autodescoberta”, revela a escritora.

Em entrevista, Squeo compartilha detalhes do livro, quais foram as inspirações por trás do processo criativo, as conexões com a profissão de escritora e especialista em Marketing e porque decidiu escrever a narrativa em português. Confira:

1 – Você descreve a relação com a literatura desde a adolescência. Como essa paixão pela escrita influenciou a sua carreira profissional?

M.S: Na adolescência, escrevia principalmente poesias. Acho que não é por a caso que revelei o meu talento no marketing em particular, no desenvolvimento de produtos e campanhas. A escrita e o meu trabalho têm em comum um processo criativo: cada produto ou nova campanha começa com a descrição de um conceito. Então, as palavras de alguma forma são o grande ponto em comum desses meus dois mundos.

2 – “Por trás dos meus cabelos” é o seu romance inaugural. Pode compartilhar um pouco sobre o processo de criação deste livro e como surgiu a ideia?

M.S: O meu grande sonho sempre foi de publicar um livro. Tem partes de “Por trás dos meus cabelos” que nasceram em momentos diferente da minha vida e que deixei do lado por um tempo. Mas, em janeiro de 2022, depois de alguns episódios que me fizeram refletir sobre a importância das referências na literatura, decidi concretizar esse projeto e me dediquei a ele por onze meses. Foi um trabalho de altos e baixos, porque eu escrevo de maneira impulsiva, por exemplo, a última parte do livro nasceu em dez horas de voo de volta de Paris e terminei de escrever em uma viagem que fiz sozinha ao Nordeste brasileiro, em Milagres.

3 – O livro se passa em diferentes lugares, como a Itália e o Brasil. Qual é a importância desses cenários para a história?

M.S: A história da protagonista é inspirada na minha jornada pessoal. Cada lugar é significativo porque influencia o contexto e determina as transformações da narrativa: a Itália é o onde tudo começa, mas também é o local em que a protagonista –   de uma certa forma – precisa fugir para encontrar a própria essência e a liberdade. A França é a terra dos encontros que a levam até o Brasil… Porém, é nas terras brasileiras, em particular o Rio de Janeiro, cidade da diversidade e do Carnaval, onde a protagonista encontra aquela libertação que tanto procurada por anos, uma liberdade feita de arco-íris e de uma profunda conexão com a natureza e a espontaneidade.

4 – O amor-próprio é um tema central em “Por trás dos meus cabelos”. Como a protagonista lida com essa busca pela própria identidade ao longo da história?

M.S: O amor-próprio na narrativa é um processo de descobrimento e busca constante – consciente e inconsciente – de que a protagonista sente dentro de si uma chama de diferentes cores em função da fase que ela está vivendo: no início, é uma procura pela liberdade e de se abrir ao mundo, afinal, “se você deixa a porta aberta, a vida entra e mudanças chegam”. Uma vez que essa porta é aberta, essa procura do amor-próprio se reflete no equilíbrio entre amar-se e amar o próximo, uma capacidade de colocar limites nas relações e também saber olhar com carinho para si.

5 – “Por trás dos meus cabelos” explora relações as relações tóxicas. Como você tratou desse tema delicado no livro?

M.S: Quando falamos de relacionamentos tóxicos, pensamos primeiramente nos casais heterossexuais. Mas pouco se sabe sobre as relações tóxicas entre mulheres. Por isso, nesta história, apresento a experiência entre a protagonista e a Amanda, tento relatar principalmente os sinais de alerta do que classifica uma relação nada saudável. Por exemplo, as implicações sobre como essa nos faz sentir; a perda de equilibro e, claro, a grande dificuldade de se libertar da dependência emocional que torna o término difícil ou deixa a pessoa receosa de abrir mão daquela relação.

6 – Você escolheu escrever o livro em língua portuguesa, para homenagear o Brasil. Como essa decisão impactou a sua escrita e a conexão com os leitores?

M.S: Sempre serei uma italiana de alma brasileira. Eu amo tanto o Brasil e sinto que pertenço a este lugar, que minha homenagem não poderia ser diferente: poder escrever a obra completa em português, também pretendo fazer isso nos próximos livros. Acho que para os meus leitores isso permitiu uma proximidade com a protagonista e com a minha narrativa, muitas vezes recebo comentários do tipo “tive a impressão de ouvir a sua voz em cada passo” então isso dá uma autenticidade muito legal ao romance.

7- Além da jornada da protagonista, há alguma outra mensagem que você espera transmitir aos leitores?

M.S: Espero que os leitores ao terminarem o livro, saiam apaixonados pela liberdade, motivados a buscar o autoamor e a nunca mais desistir dos próprios sonhos. E também que consigam olhar, sob uma nova perspectiva, o equilíbrio entre saber amar-se e amar os outros.

A obra Por trás dos meus cabelos é uma viagem por diferentes lugares do mundo. Entre descobertas e desejos, encontros e desencontros, esta história real faz refletir sobre as dúvidas, o receio de se reinventar e renunciar ao controle. Ela encoraja, não somente a romper padrões para viver um amor autêntico, como jamais se abdicar daquele que é primordial: o amor-próprio.