Um jovem rico se aproxima de Jesus e diz: “bom Mestre, que farei para conseguir a vida eterna?”
Jesus responde: “se queres alcançar a perfeição, vende tudo o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu; e vem e segue-me”.
No trecho “conseguir a vida eterna”, o verbo no grego antigo “echó”, traduzido como “conseguir”, tem o sentido de “posse”. Aquele jovem queria “adquirir” a sua parte no reino.
Perceba como aquele jovem questiona Cristo. Ele tem riquezas e já chega elogiando Jesus, chamando-o de “bom”. Conhecedor da intenção daquele jovem, Cristo dá “aquela cortada” básica: “por que me chamas bom? Não há bom, senão um que é Deus”.
Cristo, então, diz àquele jovem: “se queres, porém, a vida eterna, guarda os mandamentos”.
O rapaz responde que segue todos os mandamentos desde sua mocidade. Ou seja, era um judeu observador das leis de Moisés. Cristo, então, fala para ele doar todas as posses e segui-lo.
Ouvindo aquela palavra, o jovem vai embora triste.
Pois bem. O Evangelho Segundo Lucas utiliza a palavra “príncipe”, para se referir ao jovem, cuja origem grega é “arcwn” (archon), que significa “governador”, “comandante”, “chefe”, “líder”, o que nos mostra que se tratava de alguém muito importante, dentro da sociedade judaica.
Aquele príncipe muito provavelmente estava querendo saber como ele conseguiria adquirir o reino de Deus, valendo-se de sua riqueza. Isto é, ele queria comprar o reino. Ele chega elogiando Cristo não é à toa. O Mestre, contudo, percebendo sua intenção, toca exatamente no ponto em que estava o coração daquele rapaz: os seus bens.
Quando Cristo fala para aquele jovem segui-lo era no intuito de prová-lo, sabedor que o reino de Deus não era o que aquele jovem queria realmente. Na verdade, o rapaz queria algum elogio de Jesus para se vangloriar. Houve uma razão para o “vem e segue-me”.
Caso Jesus dissesse que ele tinha o reino de Deus por obedecer aos mandamentos de Moisés, é muito provável que aquele jovem questionasse como adquirir o melhor lugar no reino, imaginando poder comprá-lo.
Interessante que apenas o Evangelho Segundo Marcos diz que “Jesus, olhando para ele, o amou”.
Digo interessante porque o Evangelho de Marcos foi o primeiro a ser escrito. Presume-se que a data de sua escrita esteja entre 67 e 68 d.C, momento posterior à morte do apóstolo Pedro (67 d.C). Os Evangelhos de Mateus e Lucas foram escritos depois, a despeito da ordem bíblica. Segundo a Bíblia de Estudo Palavra-Chave Hebraico-Grego da CPAD, cerca de 93% do material contido no Evangelho de Marcos é repetido em Mateus e Lucas. A expressão que Jesus amou aquele jovem, contudo, não foi repetida nem por Mateus e nem por Lucas.
Nessa linha, é muito provável que essa expressão tenha sido utilizada como uma impressão apenas de Marcos, não significando, contudo, que Jesus não amasse aquele jovem. A questão é que quando Marcos utiliza essa expressão, ele traz uma conotação de que aquele príncipe era especial, sendo que isso não condiz muito com a forma com a qual Cristo trata com ele. Jesus sabia do amor dele pelas riquezas e da intenção dele, e por isso o prova daquela maneira.
Nas passagens que relatam o convite de Cristo aos apóstolos também há o “vem e segue-me”, pois ali havia a intenção de que aquelas pessoas fossem multiplicadoras da mensagem da cruz.
Em outra passagem, porém, quando uma mulher que sofria de fluxo de sangue é curada por Cristo, Jesus fala para ela “tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou, vai em paz”.
Da mesma maneira, Cristo diz para a mulher que ungiu os seus pés: “a tua fé te salvou, vai-te em paz”.
Isso nos traz alguns ensinos: o primeiro é que, a despeito das igrejas ensinarem que você precisa estar dentro de um templo físico para ter comunhão com Cristo, essa doutrina não é bíblica.
Quando questionam Jesus acerca de quando há de vir o Reino de Deus, Jesus responde: “O Reino de Deus não vem com aparência externa. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali! Porque eis que o Reino de Deus está dentro de vós.”
O original grego traz o advérbio “entos”, o qual significa “dentro”, “interior”.
Logo, a Bíblia traz o ensino tanto para o “vem e segui-me” quanto para o “vai em paz”.
Muitos LGBTQIAP+ sofrem por estarem fora do contexto de uma igreja física e sentem falta disso. E está tudo bem. Mas isso não pode ser usado como regra de imposição a todos, pois outros não sentem sentido em frequentar uma igreja, e há fundamento bíblico para esses também. O que precisamos ter é Cristo e o Reino de Deus vivo em nós.
Logo, não sofra por não sentir desejo de ir para uma igreja física. Deus não precisa de templo físico para habitar em nós e a Igreja de Cristo não é física. Se o fosse, Jesus mesmo poderia ter começado a formar uma igreja, mas não foi isso que ele fez.
Imaginem se a “Igreja, Corpo de Cristo” fosse física, com o tanto de divergências que existem, como estaria esse “corpo”?
A Bíblia diz que cada membro do corpo coopera para o crescimento, mas é isso que vemos no mundo físico? Não é o que vemos.
Por fim, deixo a reflexão da passagem descrita em Lucas 9:49. Um grupo de pessoas expulsava demônios em nome de Cristo, mas não seguiam a Jesus. Quando os discípulos dizem que os repreendeu por isso, Cristo respondeu: “não o proibais, porque quem não é contra nós é por nós”.
Jesus poderia ter, pelo menos, convidado aquelas pessoas para o seguirem, mas ele não fez isso e nem tampouco reprovou aqueles homens.
Assim, se você não está indo a uma igreja física, está tudo bem. O Reino de Deus precisa estar dentro de você! Fique em paz! Vá em paz!