Reflexão

O drama do nome para as pessoas transgêneras

conviver com dois nomes é um exercício de resiliência

O novo documento está sendo emitido no Distrito Federal (Ilustrativa)
O novo documento está sendo emitido no Distrito Federal (Ilustrativa)

Ter um nome e sobrenome é direito humano fundamental. O nome identifica a pessoa, a individualiza, não a deixa ser pessoa desconhecida (e ignorada) em meio a multidão. O sobrenome traz a genealogia (família biológica) e afetividade, reafirmando a existência histórica da pessoa no tempo e no espaço.

O nome

Nascemos e um nome nos é dado. É imposto. Tem um significado para os pais – pode até ser que eles não o reconheçam. Neste caso, bastaria deitar no divã do analista para ele surgir. Mas o significado que terá para mim, só a minha história pessoal dirá.

O nome dado informa, culturalmente, o sexo e o gênero da pessoa batizada. Há nomes ditos masculinos (João, Pedro), há ditos femininos (Rita, Sônia); há aqueles mistos (Iraci). E há o erro de igualar sexo (genitália, anatomia) a gênero (comportamento, cultural).

Quando o ser transvestegênere é aceito pela pessoa, o drama do nome surge. Ele me representa? Distingue a mim no meio da multidão? Informa corretamente meu gênero (binário, não binário, fluido, inexistente)? Evolução normal do se perceber não cisgênere é a mudança do nome.

Este acontece de duas formas: pelo nome social e pela retificação do nome. A primeira é a forma pela qual a pessoa transgênere se identifica e é socialmente reconhecida. A segunda é a modificação legal dos documentos.

Enquanto o nome não é retificado, a pessoa transvestegênere convive com situações bizarras. Tendo o nome social aceito as relações sociais pessoais fluem sem dificuldade. Mas as institucionais continuam sendo fonte de tensão.

O drama

Os bancos só trabalham com o nome de registro. Atendimento no caixa físico ou na gerência é um novo revelar da transgeneridade. Ou seja, nova fonte de estresse: como a pessoa que é caixa ou gerente vai me receber? Qual olhar terei que enfrentar?

Se o plano de saúde registra e lida com meu nome social, ótimo. Contudo, o nome morto continua presente. Quem me atender vai ter o respeito que mereço enquanto pessoa ou vai tentar me constranger publicamente? Que olhar receberei ao dosar meu PSA com nome feminino ou um beta HCG com nome masculino? Um ultrassom ginecológico com nome masculino?

E no meu condomínio? Novamente a pessoa que é síndica vai questionar quem é a pessoa estranha que mora comigo e vive recebendo contas e correspondências?

Durante a pandemia do covid-19 foi necessário apresentar teste negativo para embarque em aviões. Pessoas trans enfrentaram a situação de uma passagem com um nome e um teste com outro.

E na entrevista de emprego? Como lidar com a informação compulsória de ser pessoa trans, sendo que esta informação é irrelevante, seja qual for o trabalho?

Inspirado em https://www.instagram.com/p/CnlGpcEL5i9/?igshid=OGQ2MjdiOTE=

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