Quais são as necessidades de saúde das pessoas transvestegêneres?
O primeiro olhar pode dar duas respostas:
– nenhuma necessidade diferente das pessoas não transvestegêneres (as cisgêneres)
– necessidades diferentes não conhecidas pelas cisgêneres, e, consequentemente, pela sociedade
A saúde desta fatia de pessoas brasileiras tem um forte impacto da violência emocional e física. Violência que se traduz em:
– maior chance de tentativas de autoextermínio
– frequência muito maior de distúrbios psiquiátricos
– alto índice de evasão escolar com consequente perda de renda e subemprego / desemprego / prostituição
Dignidade
Quando esta violência, e suas consequências, são analisadas, o que é descoberto? Que falta a elas dignidade. Não que elas não tenham! A dignidade das pessoas trans não é reconhecida pelas pessoas em geral. A sociedade não lhes confere este direito humano.
Interessante…direitos humanos deixaram de ser parte inseparável das pessoas para ser algo dado a elas…
Onde falta a dignidade?
Quando a existência é negada. Ao afirmar que ser transvestegênere é estar afetado por um distúrbio mental… ou biológico… ou espiritual. Ao insistir que gênero não é atribuível por cada pessoa.
Despatologização
Aceitar que ser trans não é uma doença é “despatologizar”. Esta é, talvez, uma das primeiras necessidades de saúde. Por quê? Ao não ser percebida como doença, necessidades específicas deixam de ser sintomas de enfermidade para serem problemas a resolver. Fantasias como cura são relegadas onde devem estar, no reino da fantasia. Questões ignoradas passam a ser necessidades a encarar.
Hormônios não serão usados para tratar uma disforia, mas para dar completude a uma autodefinição de gênero. Assim como todos os outros cuidados. Na prática, implica não impor padrões universais de ser humano.
Informação
O desconhecimento do que é ser pessoa trans é barreira nos cuidados à saúde. Imagine o estresse psicológico ao tentar explicar, na recepção da urgência, o que é nome social… Se a informação fosse disseminada, esta atitude não seria necessária.
Ignorar que estrógenos, nas doses corretas, não fazem mal a mulheres com testículos. Desconhecer que testosterona, nas doses corretas, não lesa homens com útero. Implica que sintomas muito claros de colecistite, enxaqueca, úlcera péptica, fibromialgia, etc não serão atribuídos de forma errônea ao uso cruzado de hormônios.
Saber que há homens que podem engravidar facilita a vida de dermatologistas ao prescreverem isotretinoína… Medicamento usado para tratar acne severa e que lesa a criança dentro do útero. Se especialista desconhece a existência das pessoas trans masculinas, como vai prescrever corretamento a medicação?