Propus uma definição de transfobia em postagem anterior: o ódio, repúdio ou medo de contato com pessoas transgêneras. Sua manifestação ocorre pela incapacidade de admitir a existência delas, pela visão moralmente negativa que as desqualifica enquanto seres humanos. Pode levar, e não é incomum, a atitudes de violência física e/ou moral e/ou psicológica contra elas. Esta não é uma criação minha, mas é retirada da dissertação de mestrado de Leticia Lanz, “o corpo da roupa”.
Discurso frequente no meio evangélico conservador radical é que o segmento LGBTQIA+ seria cristofóbico, ou evangelicofóbico. Teria ele razão?
Teriam as pessoas trans ódio, repúdio ou medo de contato com as evangélicas? Possível. Por qual razão? Por serem elas, transvestegêneres, vistas com uma visão moralmente negativa? Como uma aberração? Como pessoas que não deveriam existir? Se for esta a razão, como condenar quem reage contra a sua própria desvalorização?
As pessoas trans se recusam a admitir a existência das evangélicas? Não, é um fato vivencial óbvio, sociologicamente bem estabelecido, cientificamente inatacável. Não há como não admitir essa existência. Contudo, a existência real das pessoas transvestegêneras, apesar dos milhares de estudos científicos disponíveis, é negada pelo segmento conservador radical. Em que base? Na recusa em aceitar o relato biográfico de cada pessoa trans quando é afirmado: “desde cedo (algumas pessoas apenas bem mais tarde) eu não me via no gênero que me foi atribuído em função da minha genitália”.
As pessoas trans desqualificam as evangélicas enquanto seres humanos? Talvez… como chamar alguém que nega emprego, direito à existência e autodefinição, convivência social, direitos previdenciários análogos aos das pessoas cis, acesso a carreiras profissionais tradicionais de ser humano. Que humanidade resta a quem nega a uma pessoa direitos básicos de existência?
As pessoas trans adotam postura de agressão física, moral ou psicológica sobre este segmento? Desconheço a prática de agressão física – alguém já leu alguma condenação a violência sofrida pelas pessoas trans dita por uma evangélica conservadora radical? Desconheço a prática de agressão moral – talvez porque as pessoas cisgêneras se recusem a se misturas às trans, ou a frequentarem os mesmos ambientes… será que temem ficar em minoria? Também desconheço a agressão psicológica… tem algum relato a nos comunicar?
A minha proposta é que, diferente da proposta de um líder conservador radical (homofobia é um diagnóstico psiquiátrico (?!)), existe transfobia quando há um desnível de poder entre as pessoas ou grupos que elas representam. Um poder maior que o outro implica na capacidade de influir sobre o destino de alguém sem levar em conta o seu desejo (uma definição de opressão). Transfobia existe quando é possível a opressão de um segmento sobre outro. Fobia, dentro do conceito acima, existe apenas quando é possível impedir o exercício do direito do outro, seja por pressão (qualquer que seja) ou por mecanismos legais.
Será que esta percepção resiste a uma investigação? Vejamos.
Hoje a sociedade cisgênera e majoritariamente heterossexual dita, pelo voto, as leis. Ou impede a proposta de novas leis. A inexistência de lei que regulamente a adoção de novo nome para as pessoas trans é um exemplo. Aquele segmento, maior, impede uma atitude que melhora a qualidade de vida e a saúde de um outro segmento, menor (veja o tamanho em outro artigo), mas significativo.
O dicionário ensina que fobia é medo. Pessoas cis e hetero temem ser vítimas do tratamento que infligem sobre as transvestegêneres e homoafetivas?
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