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Aprender é útil

Linguagem neutra e resistência transfóbica estrutural

Publicado em 27/06/2022

entrevista com Ariel Lovegood. 31 anos, natural de Minas Gerais. Transvestigênere Não-Binarie, mais especificamente Travesti Não-Binárie, intersexo e pansexual. Ativista pelos direitos de pessoas Trans e Travesti e pelos direitos dos animais há mais de 10 anos. “Meu caminhar sempre se deu por um viés interseccional e de busca por equidade para existências socialmente marginalizadas, acreditando sempre no poder da coletividade.”

1 – O que é a Linguagem Neutra? Sua importância é restrita às pessoas Trans Não-Bináries ou atinge a todes?

A Linguagem Neutra trata-se da quebra do sexismo linguístico e a inclusão de pessoas dissidentes aos gêneros binários: Mulher e Homem. Em suma, se pensarmos de forma racional, a linguagem naturalizada parte de um pressuposto patriarcal e excludente. É fácil notarmos a imposição sexista sobre as definições masculinas e femininas. Ao mesmo tempo, notarmos o patriarcado linguístico ao usarmos o plural no masculino ao termos um grupo de 9 pessoas de gêneros femininos e apenas 1 de gênero masculino: todos, eles, deles e etc.

A Linguagem Neutra não é restrita apenas às pessoas Trans Não-Binárias. É uma linguagem plural e que agrega todas as pessoas em coletivo. É importante salientar que nem todas as pessoas Trans Não-Bináries se identificam com pronomes neutros quando falam sobre si mesmas. Muitas utilizam para si pronomes masculinos e/ou femininos. Afinal, os termos masculino e feminino não necessariamente significam Mulher e Homem.

2- A Linguagem Neutra, quando corretamente utilizada, traz impacto sobre a autoestima e a saúde orgânica?

Certamente, visto que, é a validação social de cada pessoa que dessa forma se identifica, em sociedade. Por muitos anos, pessoas que não se identificam com alinhamentos identitários masculinos e femininos vivenciam uma espécie de “não-local” social. E a falta de contemplação linguística é uma das razões. Não que nunca tenha havido formas de comunicação de forma neutra, ou seja, sem imposição de gênero. Mas sabemos bem como a nossa comunicação foi moldada através de uma ótica binária.

A Linguagem Neutra não soluciona todos os problemas desse “não-local” social. Mas de fato, resulta em melhor saúde mental, acessos sociopolíticos e culturais. E, finalmente, melhoria na autoestima individual e coletiva desse grupo. A linguagem enquanto tecnologia de comunicação tem o poder de evidenciar e de certa forma, acolher a existência de uma pessoa e suas narrativas.

3 – Há várias propostas de Linguagem Neutra. Na sua opinião, qual é a mais adequada?

Acredito não haver uma proposta mais adequada. Todas são válidas e de fácil utilização. No meu caso, no geral utilizo a construção de “Elu/Delu”, pois foi a primeira que começamos a utilizar aqui no Brasil, anos atrás.

Entretanto, há pessoas que se contemplam com outras construções e essas devem ser igualmente utilizadas. Precisamos sempre nos lembrar que a confortabilidade é algo extremamente subjetivo e individual.

4 – Há forte oposição de setores transfóbicos para a adesão dessa linguagem. Quais atitudes podem ser adotadas para vencê-la?

Em primeiro lugar, é necessário compreendermos que a sociedade evolui e com isso, tudo ao seu redor.

A naturalização da Linguagem Neutra enquanto evolução linguística deve seguir o mesmo princípio das demais evoluções, seja lá em qual âmbito for.

É preciso assumirmos que o uso da Linguagem Neutra não é um ataque à chamada “linguagem culta ou formal”, mas sim uma possibilidade de agregar pessoas que nunca se sentiram e de fato, nunca foram abraçadas por uma comunicação normativa.

Essa naturalização deve partir, em suma, de setores políticos, os detentores de poder.

Há anos, enquanto os setores políticos não se posicionam a favor, estamos semeando e fomentando a Linguagem Neutra e os porquês de sua utilização de várias formas. Através de palestras, simpósios, rodas de conversa, posts didáticos em redes sociais e no dia a dia em sociedade como um todo.

Já colhemos frutos saudáveis através dessas intervenções sociais, mas ainda é pouco. Ainda precisamos alçar voos mais altos e para isso, precisamos de mais pessoas abraçando a causa, engajando, se articulando em suas comunidades e espaços de convívios, nas escolas, nas universidades e nos demais espaços de políticas públicas.

Por experiência, sei que não é uma tarefa fácil, mas de uma coisa nunca podemos nos esquecer: a Língua é um movimento social vivo, logo, é perfeitamente possível adaptá-la para contemplar a todes.

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