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Para refletir

O sofrimento do apóstolo e o trans, semelhanças e diferenças

Resistir a verdade dentro de nós dói.

Publicado em 06/12/2022

Que semelhança pode existir entre um judeu há 2000 anos e a comunidade LGBTQIAP+?

Qual similaridade há entre Saulo, judeu piedoso e as pessoas trans de hoje?

Quais experiências de vida ambos compartilham?

A história de Saulo

Saulo, que mais tarde teve seu nome hebraico traduzido para o grego, é Paulo. O apóstolo autor de várias cartas do Novo Testamento, onde certas partes são usadas contra a população LGBTQIAP+. A bíblia relata uma experiência de vida que merece ser pensada.

Paulo / Saulo era um judeu, no aspecto cultural, político e religioso. Foi educado na sua cultura e na sua fé. Mas também tinha uma educação na cultura grega – mesmo não o sendo. Nos termos de hoje, seria um “intelectual” fortemente religioso.

A primeira menção que é feita sobre ele foi como testemunha de uma execução. Uma pessoa, chamada Estêvão, foi levada ao tribunal dos judeus sob a acusação de blasfêmia. Os acusadores eram judeus com educação grega. Eles disputavam no terreno das ideias a respeito das atividades que o discípulo de Jesus de Nazaré executava. Como não o venciam no terreno das ideias, o acusaram de crime grave. (Naquela época, a legislação civil se entrelaçava com a religiosa – fato que governos laicos aboliram, graças a Deus!)

Estêvão fez sua defesa, de forma apaixonada. Relembrou aos presentes toda a história dos judeus. Ao final os acusou de serem pessoas incapazes de enxergar a realidade óbvia. E disse que estava vendo Jesus ao lado de Deus. A multidão presente o levou para fora do local e o matou a pedradas. Um jovem tomou conta das vestes da turba. Era Saulo.

Este rapaz aprovou a “execução” do judeu grego. E passou a perseguir as pessoas que pensavam como ele, que faziam parte da nascente comunidade cristã. Prendi-as, conduzi-as a julgamentos que podiam terminar nas mesmas execuções.

A dor revelada

Um determinado dia conseguiu autorização para ir de Jerusalém a Damasco buscar mais blasfemos entre os judeus, para “acabar com aquela raça”. Segundo o autor do livro de Atos, supostamente o médico Lucas, ele tomou a estrada entre as duas metrópoles da época “bufando de ameaça e morte”* contra as pessoas daquela seita. Em certo ponto da jornada, vê uma luz mais forte que o sol, ouve uma voz e cai do cavalo. Ele escuta: “Saulo, Saulo, por que você está me perseguindo? Resistir ao aguilhão só lhe trará dor!

Este é o pondo de virada da vida de Saulo, agora Paulo. Resistir a algo que o está machucando só trará maior sofrimento, para si e para as pessoas à volta. Qual era a resistência dele? A interpretação que faz sentido é que ele se recusava a aceitar Jesus como messias. Esta aceitação o tiraria de sua zona de conforto; no meio no qual ele estava acostumado; na cultura no nome da qual ele matava para proteger. Era a última coisa que poderia lhe acontecer. Se tornar o que não queria se tornar – melhor, aceitar que já era o que rejeitava ser.

O sofrimento das pessoas trans

Não é o mesmo fato que acontece com as pessoas LGBTQIAP+? Em especial as transvestegêneres? É duro passar anos sem entender o que acontece: por que me sinto assim? O que está de errado comigo? O que sou eu? Frequentemente elas se compreendem homoafetivas e tentam viver assim, em uma primeira saída do armário. Mas percebem que a questão é outra. O gênero que carregam não é o que deveria ser. Tudo o que queriam é ter uma vida sossega e tranquila. Por que, em nome dos céus, tinha que ser trans?

Na minha escuta profissional é comum a frase: “a pior coisa que me aconteceu foi ser trans. A melhor foi assumir que eu sou”. Guardadas as devidas diferenças, o drama pessoal do apóstolo é muito semelhante ao vivenciado pelas pessoas transvestegêneres. Como é duro descobrir que se é o que não se desejava ser.

As razões para tal sofrimento? A construção social de que genitália determina gênero, e que gênero determina como viver, e privilégios – e sua ausência. A construção social que dita ser anormal, desviante, doença uma simples variabilidade da experiência humana. Há mais gêneros do se se imagina – obrigar a dois determinados pela genitália é condenar 4 milhões de pessoas nascidas no Brasil a um sofrimento desnecessário.

O sofrimento de Saulo / Paulo e o das pessoas trans tem a mesma raiz: a intolerância com o diferente, a recusa em aceitar a diversidade e a pluralidade.

* tradução do Prof Frederico Lourenço

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