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Pessoas não bináries - você as conhece e reconhece?

as características desta população são desafiadoras para todes, inclusive para quem lhes dá cuidado de saúde
27/10/2022 08:00
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Bandeira do orgulho não binário, símbolo da pluralidade de gênero e da resistência às normas binárias.(foto: Kye Rowan, criador da bandeira do orgulho não binário (2014))

Símbolo do orgulho não binário, representando identidades que não se encaixam exclusivamente no feminino ou masculino.

Pessoas não bináries são um desafio. Para todes. Inclusive para pessoas transvestegêneres.

O Primeiro

É com a linguagem inclusiva. A língua portuguesa reconhece 2 gêneros: masculino e feminino. Outras, como a inglesa, possuem o neutro. Pessoas femininas somente se sentirão incluídas quando são referidas no masculino se a gramática for capaz de modificar sentimentos. “Saúdo a todos os presentes” certamente fala das masculinas… Estas se sentiriam incluídas se ouvissem “Saúdo a todas as presentes”? Pessoas não binárias podem se identificar com o masculino ou com feminino. Ou com nenhum. Neste caso as duas formulações não as inclui. “Saúdo a todes presentes” pretende incluir, sem excluir. Os desafios desta linguagem foram abordados em entrevista com Ariel Lovegood.

O Segundo

Iirmana as pessoas cisgêneres e transvestegêneres. Impossível? Não, pois ambas têm dificuldade em compreender e aceitar o não binarismo. Como este termo pode ser compreendido? Segundo Não-Bináries BR, ele carrega consigo diversas possibilidades: agênero, bigênero, demigênero, gênero fluido, gênero neutro, pangênero, poligênero. E o desafio é ainda maior para essa dupla irmã, pois muitas estatísticas, incluindo brasileiras, apontam as pessoas não bináries como o maior grupo entre as transvestegêneres.

O Terceiro

Diz respeito a profissionais da saúde que auxiliam as pessoas transvestegêneres. Ele está no uso de hormônios e processos cirúrgicos.

Testosterona (produzida pelos testículos) e estradiol (produzido pelos ovários) atuam em todo o corpo. Não é possível, por exemplo, esperar que atuem nas mamas mas não atuem nos músculos. As necessidades não-bináries de adequação do corpo ao gênero muitas vezes não são possíveis através destes dois hormônios. Outras substâncias se tornam necessárias.

O conhecimento do uso da testosterona e estradiol pelas pessoas transvestegêneres é bem maior que o sobre uso de outras substâncias. Quanto maior o conhecimento, maior a segurança. O cuidado da medicina para com as não bináries implica em um diálogo franco entre quem cuida e quem recebe cuidado para analisar as diversas possibilidades.

Dentro deste desafio, há outro: a solicitação de cirurgia, como a mastectomia, sem o uso prévio, ou posterior, de hormônios. Este introduz um ator extra, pouco presente nos anteriores: a lei e o direito. O que torna um procedimento cirúrgico legítimo é sua utilidade na preservação da vida e / ou na melhora / manutenção da sua qualidade. Como convencer a medicina de que um sem o outro promove qualidade de vida?

A sociedade brasileira lida mal com o segmento LGBTQIAP+. E o segmento trans é particularmente mal visto. Encontrar profissionais dispostos a discutir essa demanda sem temor de problemas legais não é fácil. Se a possibilidade de atenção particular existe, está disponível a poucos com condições financeiras para tal. Os planos de saúde temerão consequências jurídicas e, amparados pelo que existe até agora, recusarão. E os cuidados do SUS para com a população transvestegênere não prevê cirurgia sem hormônios.

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