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Reflexão

Quando a sua religião transforma você em matador

o discurso religioso cristão frequentemente está em desacordo óbvio com o ensinamento de Jesus Cristo. Transfobia, presente em atitudes as mais diversas, é fonte de morte segundo relatos e pesquisas científicas bem conduzidas.

Publicado em 17/03/2022

O Sermão da Montanha é uma parte famosa do Evangelho segundo Mateus. Gandhi teria dito que se os cristãos o praticassem o mundo seria melhor. Acho que ele está certo. Um famoso teólogo inglês, sacerdote anglicano John Stott, falecido em 2011, escreveu um comentário sobre o sermão, e o chamou de “Contracultura cristã”.

Um dos primeiros pontos que Jesus trata neste ensino diz respeito ao assassinato. Ele disse: “Ouvistes que foi dito aos antigos: não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo.Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: louco, será réu do fogo do inferno. Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta.

Agora, vou contar uma história: “Eu fui criado na Igreja. A minha mãe é ministra da eucaristia. O lugar onde eu mais gosto de estar é a Igreja. Por eu ser gay, o padre da minha paróquia fez um duro sermão em uma missa. Olhando para mim, ele disse que as pessoas homossexuais têm um demônio. Quanto mais elas vivem, mais pecam. É melhor que não vivam muito. E os outros fiéis balançavam a cabeça concordando. De tanto ouvir isto, e de tanto ver os outros concordarem, tomei uma decisão: ‘este demônio aqui não vai mais viver’!

No artigo anterior falei sobre suicídio como um problema de saúde pública que pede enfrentamento. Deixei claro que as estatísticas, 35 ocorrem diariamente neste país; ser LGBTQIA+ aumenta e muito as chances de autoextermínio; ser transvestegênere multiplica por ± 15 as chances de ocorrer.

Comentei sobre algumas razões cientificamente levantadas que levam pessoas a tal ato. A história acima, real, é uma delas. O ministro religioso da fé que tinha um profundo significado para a personagem a condena em função da sua orientação sexual. Explicitamente: “têm um demônio” (só pode ser algo ruim). Diretamente: “olhando para mim” (pelo menos assim ela compreendeu). Ela planejou como resolver o problema do seu demônio interior: “Eu decidi que no dia 17 de setembro de 2011 iria a um prédio público de dezoito andares, e me atiraria do topo. Escrevi uma carta à minha família e coloquei na mochila.

A lei mosaica proibia o assassinato, e punia o homicídio intencional com pena de morte, sem possibilidade de comutação, perdão ou refúgio. Jesus ampliou a condenação: quem fizer mal à pessoa próxima que não seja reação a outro que primeiro lhe foi feito terá cometido assassinato, e a condenação será a mesma.

Aplicando o ensinamento de Jesus, o sacerdote do relato está sujeito ao fogo do inferno.

Pode ser dito que a atitude dele é um fato isolado, raro. Tenho minhas dúvidas que você acredita nisso… Alguns levantamentos científicos mostram que sua dúvida é bem fundamentada.

Pessoas submetidas à “terapia de conversão” (não há provas científicas de que funcionem), realizadas majoritariamente por religiosos cristãos, têm 88% mais chance de tentativas de autoextermínio que aquelas que não vivenciaram tal “terapia”. (atalho)

Receber o apelido, conferido em ambiente religioso, de “pecador”, “diabo”, “possuído pelo demônio” leva pessoas LGBTQIA+ a pior qualidade de vida e a uma maior chance de autoextermínio (atalho).

Aplicando o ensino de Jesus, pessoas que assim agem são assassinas.

A frase “transfobia (ou homofobia, ou LGBTQIA+fobia) mata” parece ser vista por aquelas pessoas transfóbicas como “mimimi”. Aquelas mais educadas, ou mais preocupadas com uma aparência de intelectualidade, talvez digam que é peça de ficção.

Mas os números que nascem dos levantamentos, a história oral, as notícias dos jornais mostram que há relação de causa e efeito: transfobia mata! Portanto, medidas voltadas para combater este conjunto de atitudes é de interesse social, é questão de saúde pública, é questão de valorização da vida (ou somente algumas vidas importam, e outras não?).

nota de rodapé: sou médico desde dezembro de 1986. Em toda minha vida profissional, quase toda ela em atendimento ambulatorial e de consultório, somente uma pessoa tirou a própria vida. Um rapaz trans…

[email protected] @eduardoribeiromundim

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