Contracultura

Madame Satã, o herói da contracultura

O Caranguejo da Praia das Virtudes

Madame Satã  - Arquivo Nacional
Madame Satã - Arquivo Nacional

Um dia antes da 28ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, assisti um filme que gosto muito , Madame Satã, com o  ator Lázaro Ramos. Roteirizado e dirigido por Karim Aïnouz, Marcelo Gomes e Sérgio Machado. O filme retrata a vida de João Francisco dos Santos, mais conhecido pelo apelido de Madame Satã, uma figura icônica da contracultura urbana do século XX.

João Francisco dos santos, nasceu em 25 de fevereiro de 1900, em Glória do Goitá, no interior do Estado de Pernambuco. De família extremamente pobre, descendente de escravos, era um dos 18 filhos de dona Firmina, Madame Satã, era filho bastardo de um senhor de engenho , teve uma infância marcada por dificuldades. A mãe o trocou por uma égua após a morte de seu pai. Ela o entregou a um fazendeiro.

Sendo tratado em condições análogas à escravidão. Fugiu para o Rio de Janeiro, onde continuou enfrentando trabalhos forçados e, posteriormente, se dedicou à vida de furtos pelas ruas da Lapa.

João Francisco, Fumava, jogava, era capoeirista, sempre visto com prostitutas, malandros da lapa, foi treinado por outro rei da malandragem, sete-coroas, e ficou conhecido pelo apelido de caranguejo, por causa do  soco de esquerda , e por frequentar a Praia das Virtudes, onde ia nadar e conseguir o condicionamento físico que lhe permitia fugir da perseguição incansável da polícia. Após a morte de seu mentor, Sete-Coroas, ele se tornou o malandro mais temido da Lapa.

Além de malandro, pai, criou seis filhos adotivos,  lutador e exímio cozinheiro, Madame Satã foi a primeira travesti artista do Brasil. Encantado pela vida artística da Lapa, ele se destacou como imitador de estrelas femininas e, em 1928, conseguiu um trabalho num show na Praça Tiradentes. Se apresentava dançando com uma saia vermelha em teatros da Praça Tiradentes , interpretando um número que ficou clássico em seu repertório com a música “Mulher de Besteira”. Seu sonho era viver uma versão brasileira de sua diva Josephine Baker e, para isso, assumia a alcunha de Mulata do Balacochê.

Desafortunadamente, a popularidade recém adquirida acabou por atrair atenção indesejada. Certa noite do mesmo ano, um guarda-civil resolveu provocar, chamando-o repetidas vezes de “veado”, com agressividade crescente até chegar a empurrões. João procurou manter a calma, seguindo o código social da época de “em guarda não se bate” e “bicha não reage”. João Francisco debandou em silêncio. No quarto, refletiu sobre o incidente. A ferida havia estancado.

Levantou-se, introduziu um revólver no bolso e deu as caras no botequim outra vez. Apertou o gatilho. Agora, quem sangrava era o policial, caído na sarjeta em plena Rua do Lavradio. João Francisco foi condenado a dezesseis anos de prisão, mas cumpriu apenas dois. Após sua libertação, Madame Satã continuou a equilibrar a repressão com seu crescente prestígio na vida noturna. “Eu não tinha medo”, dizia. “Minha bolacha de esquerda era respeitada. Acertava sempre no ouvido do inimigo, e o sujeito demorava a voltar.”

Em outro caso famoso, enquanto estava em um bar, um sargento apareceu subitamente e desferiu seis tiros nele, errando todos. Vendo que estava ileso, saiu em perseguição do militar e lhe deu uma sequência de navalhadas, uma delas no traseiro. E logo se espalhou a história de que havia dado uma navalhada na bunda de um sargento.

Ele mesmo alimentava seu próprio mito, ora inventando histórias sobre si, ora se calando sobre o que inventavam a respeito dele. Seu jeito ora viril, ora delicado, impressionava as pessoas e o tornava popular. E além disso, inventava hábitos peculiares. Por exemplo, gostava de se referir a si próprio como “a minha pessoa”. Dizia “a minha pessoa gostou muito disso”, “minha pessoa fez sucesso”.

Como surgiu o apelido “Madame Satã” ? Entre idas e vindas da prisão, sua consagração artística veio em 1938. Uma vistosa fantasia de sua criação, inspirada num morcego do nordeste do Brasil e lindamente decorada com lantejoulas, foi a campeã do baile de Carnaval do Teatro República. A fantasia que montou para o desfile do bloco de rua Caçador de Veados, no carnaval de 1938, foi batizada por ele de, Madame Satã, inspirado em filme homônimo de Cecil B. DeMille, e ganhou o concurso daquele ano. Seu último desfile ocorreu em 1941.

Madame Satã cultivou amizades com muitos artistas da Era de Ouro das rádios nacionais, como Chico Alves, Noel Rosa, Orlando Silva, Vicente Celestino e Aracy de Almeida. Entre suas conhecidas mais ilustres estava Carmen Miranda, carinhosamente chamada por ele de Bituca.

Em 1974, dois anos antes de sua morte, estrelou a peça “Lampião do Inferno”, onde interpretou Satã ao lado de Elba Ramalho e Tânia Alves. No mesmo ano, o filme “A Rainha Diaba” foi lançado, inspirado em sua vida, com Milton Gonçalves no papel principal.

No filme, com o roteiro de Antonio Carlos Fontoura e Plinio Marcos, e a direção de Fontoura. A história girava em torno de um homem gay autodenominado Diaba , interpretado brilhantemente por Milton Gonçalves, que controla uma rede de uma rede de narcotráfico na favela, a partir de um quartinho, nos fundos de um prostíbulo comandando por Violeta , interpretada pela atriz , Yara Cortes.

Madame Satã faleceu em 12 de abril de 1976, deixando seu legado. Em 1978, Chico Buarque avisou, em sua “Homenagem ao malandro”, que foi à Lapa e perdeu a viagem, porque “aquela tal malandragem não existe mais”.

O Brasil é o país que mais mata homossexuais, travestis e transexuais . Em 2024, é crucial lembrar de Madame Satã para inspirar mudanças no futuro. Ele continua sendo uma grande referência para a militância LGBTQIA+  é considerado o maior de todos os malandros, não só da Lapa ou do Rio, mas do Brasil.

Salve a malandragem !!! “A minha pessoa está feliz demais nesta noite”.

Via Adoro Cinema

Via Bernilare

Via Adoro Cinema

Via Adoro Cinema

Silvia Diaz , é Atriz, Performer, Dramaturga e Roteirista. Estudou interpretação Teatral(Unirio). Graduada em Produção Audiovisual(ESAMC). Dramaturgia ,SP escola de Teatro. Apenas uma Artista que vende sonhos em dias cinzentos. E quando os dias não forem tão trevosos, ainda assim continuarei a vender meus sonhos!! Cores, abraços, afetos, lua em aquário. Fluindo ..

@silviadiaz2015