Esta é uma história de amores. De marés. De fluxos e do movimento que a própria vida cria, e nos leva a encontrar com o nosso verdadeiro eu. A trama se desenrola ao longo do ano de 1963. Tem como pano de fundo a cidade de São Luís do Maranhão.
A obra nos traz, por meio de sua narrativa empática, um diálogo com temáticas atuais, como questões raciais e diversidade sexual, e apresenta ao leitor Maria Ellena, uma jovem professora de História de 26 anos, bonita, branca e recém-casada com Arthur, um aristocrata dominado pela mãe. Ellena deixou de dar aulas para se dedicar à sua nova condição de dona de casa. Não ficava bem, pelos padrões da época, trabalhar fora, já que o marido, um homem de posses, podia sustentá-la.
Na trama, a professora, apaixonada pelo magistério, obtém licença do marido para dar aulas em casa, sem remuneração, para a neta da costureira da sua mãe, que se preparava para o vestibular de História. A aluna é Mariana, de 19 anos. Interessada na importante participação dos negros na construção da cidade, Mariana convence a professora a acompanhá-la nas pesquisas sobre a saga de um ancestral escravizado do qual ela tem pouquíssimas informações, as quais deseja resgatar em arquivos históricos, além de resgatar a história dos negros escravizados que ajudaram a construir São Luís do Maranhão.
Entre pesquisas, passeios de bonde e conversas descontraídas, saboreando sorvetes de frutas da terra, Maria Ellena e Mariana descobrem afinidades, tornam-se amigas, confidentes, até se descobrirem enredadas em uma inesperada paixão, que mudará radicalmente seus destinos.
Ao longo das páginas de Amores, Marias, Marés, a escrita de Chico Fonseca conquistará os leitores e fará com que eles acompanhem os questionamentos e os dramas de suas personagens principais
E agora, com pouco mais de um ano de casada, sou surpreendida por
essa epifania, essa revelação, essa loucura, esse sentimento
transgressor, que não respeita costumes nem regras,
que desconhece barreiras, que virou a minha vida de pernas
para o ar e me mostrou o que eu me recusava a ver. Tinha medo de ver.
A expectativa pela chegada da pessoa amada eu sinto agora.
O coração batendo forte a cada encontro, é o que eu sinto hoje.
E, mais forte que tudo, o arrepio dos amantes, a brasa
ardente que me queima quando tu te aproximas de mim.
(Amores, Marias, Marés, p. 109)