Estreia poética da escritora e dramaturga LGBT+ Martina Sohn Fischer (@nomedemar), “O que estive fazendo quando nada fiz” é uma obra que propõe um diálogo entre as pulsões de vida e morte a partir de um reconhecimento sensível da própria voz e dos desejos, luzes e sombras — que fazem parte da composição de um eu-lírico demasiado humano.
Publicada pela editora Urutau (108 páginas), a obra conta com a orelha assinada por Dione Carlos, roteirista, atriz, curadora e também dramaturga. Martina lança o livro no próximo domingo, dia 8, na 42ª Semana Literária Sesc & Feira do Livro, que acontece no Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, às 17h.
A morte, o amor, a depressão, a mania e as marcas que ficam são os temas centrais de “O que estive fazendo quando nada fiz”. Focado no tempo e em todos esses atravessamentos possíveis, a obra reúne poemas que começaram a ser escritos em 2017, quando a autora vivia momentos difíceis.
“Os poemas foram minha forma de criar uma existência possível, mesmo desejando meu próprio desaparecimento. Só escrevo sobre o que me atravessa, a escrita é meu modo de sobreviver”, explica Martina. “Meu livro é sobre pulsão de morte, mas também pulsão de vida. É sobre depressão, mas é também sobre um olhar lírico que invade o dia para que seja possível vivê-lo, e sobre mania, quando esse olhar lírico se torna brilhante demais e consome tudo ao redor, inclusive o próprio corpo e mente.”
Confira um poema que faz parte do livro “O que estive fazendo quando nada fiz”:
na boca dele as palavras soaram como uma realidade possível. repeti. meus olhos água e minha boca distanciaram esse real.
desaparecer.
desaparecer e causar um vazio
no meu corpo
e outro corpo ressurgir
surgir
desse vazio que
aparece
quando algo conhecido
se vai, pelos dedos e pelos olhos
tocar o que tange agora
o outro corpo que circunda
tem sido impossível
orbito ainda o caminho já feito ontem
é difícil habitar o próprio desaparecimento.