Discussão

Homem casado é mais interessante? Especialista explica fantasia

Discussão é ampla e abre um leque com diferentes percepções

Homem
Homem (Ilustrativo)

Livros, filmes e músicas, isto é, existe uma vasta produção cultural dedicada estritamente aos amantes. Aquele homem dominador, mas também gentil. Carinhoso e protetor, porém sacana e atrevido. Mas com um detalhe quase irremediável – casado. Pois é, essa história de amante não é de hoje. Marquesa de Santos é conhecida por ter sido a famosa amante de D. Pedro I, dizem que ele era um mulherengo incorrigível. Alexandre, o Grande se casou com uma mulher, mas o historiador Diodoro Sículo afirma que o guerreiro teria tido pelo menos um amante-homem, Heféstion. Aliás, não teria sido só tesão esporádico, houve o enlace de almas, a ponto de fazer um dos homens mais viris ficar sem comer e beber quando soube da morte do amado.

Agora voltando aos tempos hodiernos – Existe algo de mais objetivo que explique essa tara/dependência por homens casados? Todo mundo deve conhecer uma mulher que só sai com homem que tem esposa, parece magnetismo, sempre que ela está com alguém o eleito é comprometido perante a lei. Seria ela fetichista? Vítima do patriarcado? Seduzida pelo opressor? O ‘desejo proibido e perigoso’ costuma atiçar a imaginação. Além disso, pode ter uma competitividade envolvida – se ele está comigo, logo, eu sou ‘melhor’ do que a rival? Um masoquismo, talvez, eu preciso ficar com alguém que me faça sofrer, que traga à tona minhas misérias afetivas? Com homens pode ser a mesma coisa, mas com forte adicional de que tem cara casado que sai com outros homens escondido simplesmente porque ainda não consegue revelar sua sexualidade por conta da pressão social e da homofobia, que infelizmente são fortíssimas.

Bom, o psicanalista Luís Pierott também nos concedeu as suas observações acerca do tema.

A psicologia tradicional e a antropologia têm as suas explicações para esse tipo de comportamento. Geralmente justificam tomando como argumento a baixa autoestima do indivíduo, a sensação de estar com alguém sendo “livre” em simultâneo e os comportamentos sexuais que beiram a ninfomania. Existe até um suposto diagnóstico para isso que podemos conceber, à luz da psicanálise, como um sintoma… chamam de *Síndrome de Fortunata.

Síndrome de Fortunata é a dependência com pessoas casadas, muitas vezes estabelecendo-se como seu amante .

Eu não duvido que esses fatores possam contribuir, mas estou aqui para falar sob o ponto de vista da psicanálise, ou pelo menos, sob o meu ponto de vista enquanto psicanalista.

Ao meu ver, a referida tendência encontra lastro na fase edipiana, universalmente conhecida como complexo de Édipo. Freud se baseou no mito grego de Édipo Rei, escrito por Sófocles para fundar sua teoria. É nesse período – edipiano – que a criança passa a viver o seu primeiro triângulo amoroso, onde no caso das mulheres, há um desejo inconsciente em assumir o lugar da mãe, tendo o pai exclusivamente para si, e no caso dos homens, o inverso

Lembro-me do caso de uma paciente que tinha um sonho muito recorrente na infância, onde a mesma se encontrava dentro de um mundo de fantasia, que fazia lembrar o clássico “Alice no País das Maravilhas”, quando se deparava com sua mãe chamando-a pelo nome a uma certa distância. Antes que ela pudesse chegar até a mãe, começa a – pasmem – chover salsichas gigantes! E no meio dessa chuva, sua mãe acaba esmagada e morta pela salsicha. A salsicha assume o simbolismo do falo paterno, que não só está presente, como elimina sua mãe. Ela relatava que sempre acordava angustiada desse sonho, e é justamente assim que o Édipo se dá… quando tomamos consciência do desejo real em assumir o lugar do nosso genitor do mesmo sexo, a angústia é inevitável. 

Respondendo, enfim, sua pergunta, não questiono a dose de libido narcísica investida sob tal conduta, nem mesmo o fetiche pelo proibido, mas posso dizer que percebo, a partir da minha experiência clínica, que a maioria das pessoas que se atraem por homens casados são aquelas em que durante sua fase edipiana, conviviam com pais/mães que traíam os seus cônjuges, e isso ensejava conflitos recorrentes dentro do casamento. 

Desta forma, passa a ocorrer uma espécie de busca inconsciente pelo amor desse progenitor, que não quis nem sua/seu parceira(o), nem ela, mas a(o) amante. Colocando-se no lugar de amante, projeta-se o genitor no parceiro(a), fazendo com que o sujeito passe a acreditar que não será mais preterido, e pelo contrário, passe a ser o escolhido.

Inscrever-se
Notificar de
0 Comentários
mais antigos
mais recentes
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários