Geralmente as mulheres são “obrigadas” a ouvir diversos comentários desagradáveis, apenas pelo fato de serem do gênero feminino, e quando uma delas escapa do padrão imposto pela sociedade, aí é que o bicho pega. Seguindo esse ponto de vista, já dá para imaginar por quantas situações e momentos desnecessários as mulheres lésbicas passam, não é mesmo?
Frequentemente, mulheres que se relacionam com pessoas do mesmo gênero escutam perguntas desconfortáveis, que muitas vezes são uma invasão de suas privacidades. São coisas como “Você é lésbica por que nenhum cara te pegou ainda?”, “Então é por isso que você se veste como homem, você quer ser um?” e claro, a clássica “Quem é o homem da relação?”.
Vendo tantos momentos assim se repetirem dia após dia, o Observatório G decidiu chamar algumas mulheres lésbicas para bater um papo sobre o assunto. Elas contaram algumas das perguntas que jamais devem ser feitas para uma lésbica. Nós conversamos com Analu Lima de 22 anos, a tatuadora Marcella Barreto e com a fisioterapeuta Fabieli Cristine, que nos contaram algumas situações pelas quais passaram.
Quem é o “homem” da relação?
Essa é uma das perguntas mais feitas por pessoas que não conhecem nada a respeito de relacionamentos lésbico, e que muitas vezes querem satirizar e constranger a outra pessoa. Fabi conta que já ouviu esse tipo de questionamento em várias ocasiões, quando comentam sobre a relação entre ela e sua noiva. “Acho que o mais chato até hoje, que no caso sou noiva de uma mulher e perguntam quem é o ‘homem’ da relação, e parece difícil a pessoa entender que o namoro lésbico não tem homem e fim” relata.
Ela também conta que apesar de ser desconfortável responder os questionamentos, procura relevar quando algo do tipo acontece. “Depende muito da pessoa, né, tem gente que faz esse tipo de pergunta já querendo ofender, já com o preconceito enraizado… Eu sou bem de boa, relevo bastante, prefiro não discutir, sabe? Apenas ignorar.
Geralmente só respondo que NÃO TEM HOMEM NA RELAÇÃO E SIM DUAS MULHERES, e aí não falo mais nada, mudo de assunto” finalizou.
Você é lésbica por causa da falta de uma presença paterna?
Já Analu Lima relata ter passado por uma situação a qual perguntaram se sua orientação sexual teria algum envolvimento com a falta de uma figura paterna. “Foi a mais absurda pergunta que já recebi, se eu ‘virei’ lésbica por falta de presença paterna” contou. Embora não seja uma das questões mais levantadas, não é difícil que muitos relacionem a sexualidade de uma pessoa a algum “problema” familiar, o que acontecer muitas vezes, e isso é algo que pode ocorrer com qualquer pessoa da comunidade LGBTQIA+.
Vocês são irmãs?
Ao falar sobre o assunto, Marcella relembrou um momento de sua vida, onde questionaram se ela e a namorada eram irmãs, o que também é uma das perguntas mais escutadas por mulheres lésbicas em seu dia a dia. “Lembro que em um rolê aleatório me perguntaram se Alexia (sua namorada) era minha irmã” relembrou a tatuadora. Infelizmente, muitas pessoas preferem deduzir que duas mulheres juntas são apenas amigas ou irmãs, excluindo totalmente a possibilidade de que na verdade são um casal. Ou sabendo da relação entre as duas, fazem o questionamento a fim de causar uma situação desconfortável.
Mas essas são apenas algumas das várias perguntas desnecessárias feitas por indivíduos que não buscam ter ao menos o mínimo de bom senso. Outras questões levantadas são: “Você tem cabelo curto para dizer que é lésbica?” “Tem certeza que você gosta de mulheres, não é só uma fase?” “Se você só transou com mulher quer dizer que você é virgem?” “Você não tem curiosidade em se relacionar com um homem?” “Já pensou em abrir uma exceção?” e muitas outras.
Durante a conversa, a fisioterapeuta Fabieli Cristine, chegou a brincar ao falar a respeito do que é necessário para que coisas assim deixem de acontecer ou ao menos passem a diminuir. “Cada um cuida da sua vida vale como resposta? Sei lá, um pouco de noção talvez” ironizou Fabi.
Analu também falou sobre o assunto e disse que é preciso que as pessoas passem a ter e a buscar mais informações sobre o tema “Informação, 100% informação, mais exposição na mídia sobre o tema, com certeza, e menos ignorância de ambas as partes da sociedade” disse.
Às vezes é preciso se impor para evitar que situações como essas continuem acontecendo, e deixar claro que não é porque algo está fora da realidade do que o outro acha “natural”, que isso lhe dá o direito para falar o que quer, sem pensar consigo mesmo se a atitude será de bom tom. Buscar sempre informar com a verdade e nada além disso, para que coisas irreais não sigam sendo compartilhadas.
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