“Muitas carícias” Carla Cecarello explica como perder o medo do sexo anal e fala sobre sexualidade

Carla Cecarello
Carla Cecarello (Foto: reprodução)

Quando relembramos a sexualidade na história, adentramos uma época bem repressiva, sobretudo para mulheres. Ainda há tabus, mas já foi pior. O sexo somente por uma razão: para procriar, conforme preceituava a religião. Não à toa muitas mulheres eram vistas como abomináveis, justamente por ter uma sexualidade forte e expressiva.

Nesse aspecto, falamos sobre o tido como pecado imperdoável, submissão, deveres com a sociedade vigente e o divino. Sexo entre pessoas do mesmo sexo então era uma vexação. Desse modo, “A pudicícia imperial figura no brasão de nossa sexualidade, contida, muda e hipócrita”, diz o livro de Michel Foucault. Para ele, a relação sexual era qualificada como relação de poder. Nessa direção, a repressão era necessária para viabilizar o exercício de poder da burguesia.

O tema sexo é tão amplo que possui desdobramentos e entendimentos de vários filósofos e especialistas. Freud já chegou a ler a sexualidade desde a infância, identificando um instinto sexual já nessa época, ancorando sua argumentação no termo Perverso Polimorfo.

Sexo

Alguns acham que o sexo é uma troca de energia, outros já qualificam como algo transcendental, sobretudo quando o casal está apaixonado.O fato é que, independentemente de estarmos em uma época em que todo mundo fala abertamente sobre tudo, ainda há muito tabu acerca da questão. É como se gozar, masturbar e gemer de prazer ainda fossem questões submersas e que devem ser tratadas da maneira mais discreta possível.

Porém o homem é sexual. Ou seja, o ser humano vai se interessar por sexo e procurar respostas acerca de sua própria sexualidade e, sobretudo, formas de expressá-la. Assim, tratar o assunto sem conceituações difíceis, mas de forma simples e responsável é o ideal.

Desse modo, conversamos com Carla Cecarello, sexóloga e especialista, que já deu várias entrevistas sobre o tema e hoje tem um canal no YouTube intitulado Sexualidade e Você. Carla fala sobre o tema com maestria e muita leveza e dinamismo. Confira!

Você tem um vídeo tratando de sexo anal de uma maneira ampla e dinâmica. Aliás, este é um tema que suscita muita curiosidade e, ao mesmo tempo, medo.  Qual dica você daria para pessoas, sobretudo para quem começou agora a desbravar o universo da sexualidade, para perder este receio?

Para quem está começando, iniciando a vida sexual, acredito que a prática do sexo anal deveria aguardar um pouco mais. Na verdade, a pessoa precisa se sentir bem à vontade e segura. Contudo, para iniciar a prática, é importante dizer que se deve começar com carícias na região, mas sem penetração ou uso de algum objeto. Desse modo, para quem está iniciando e quer a prática do sexo anal, o ideal primeiro é com carícias e passando bastante lubrificante, pode até encostar o pênis, mas sem penetração.

Você acha que existe hoje um estímulo ao sexo precoce? O que você pensa sobre temáticas de educação sexual inseridas na grade escolar? Além do mais, você acredita que tratar este assunto desde cedo pode evitar casos de abuso sexual?

Sim, existem hoje muitos estímulos que acabam induzindo ao sexo precoce: moda, dança, conversa e tudo isso acaba contribuindo. Contudo, se você tem uma educação apropriada na escola e em casa, a chance da iniciação sexual se dar precocemente diminui muito, existem estudos apontando isso. Sim, eu sou a favor de incluir educação na grade escolar, já começando adentrar a partir do 5º e 6º ano. Já em casa, os pais podem começar a responder os questionamentos dos filhos conforme eles forem trazendo as necessidades. Nesse sentido, a vida sexual será iniciada com mais responsabilidade. E, sim, isso ajuda a evitar casos de abuso sexual, justamente porque a pessoa conhece melhor o próprio corpo e entende os limites desse corpo e, consequentemente, estabelece limites para o outro. Educação sexual é fundamental!

Já vi uma entrevista de uma especialista ressaltando que há possibilidade de o indivíduo contrair HIV através do sexo oral, mesmo que essa probabilidade seja pequena. Qual sua percepção sobre isso?  Além do mais, existe o sexo oral certo ou errado, existe o jeito certo de fazer para potencializar o prazer ou isso é muito particular? (Aqui falo de homens e mulheres).

Sim, através do sexo oral pode contrair o HIV. Na verdade o sexo oral pode ser feito com preservativo. Nesse aspecto para o homem é mais fácil, porque o preservativo encapa todo o pênis. O HIV pode ser pego através do esperma, que pode entrar em contato com alguma lesão que a pessoa tenha boca e entrar em contato com a corrente sanguínea. No caso das mulheres, pode-se pegar um preservativo masculino, rasgar e proteger toda parte da vagina e clitóris. Em relação ao prazer, vai da criatividade e diálogo do casal. Através da conversa, o casal vai se alinhando para proporcionar um sexo oral mais prazeroso.

Nosso corpo é coberto de poros receptivos de prazer. Contudo, ainda há uma repressão sobre assunto, o que pode desencadear sérios problemas. De acordo com sua ótica de especialista, você acha que o debate sobre sexualidade amplificou? Ou seja, você acredita que as pessoas estão tratando o assunto com menos tabu e já estão entendendo que falar sobre isso é essencial à saúde? No mais, que dica você daria aos pais de jovens?

Sim, as pessoas estão falando muito mais sobre sexualidade. Você mesma está fazendo uma entrevista sobre isso, eu várias vezes falei sobre o assunto em programas, a própria mídia aborda sobre o tema. Mas, muitas vezes, a mídia contribui para não trazer boas informações e banaliza demais o sexo. Ou seja, nós saímos de um extremo e fomos para outro. Alguns tabus estão caindo por terra, mas o preconceito ainda há. Desse modo, podemos citar uma mulher que só queira o sexo casual, sem envolvimento, pois bem, essa mulher não é vista com bons olhos e é rotulada de vagabunda. As coisas têm mudado muito, nós evoluímos muito nesse quesito, porém ainda há muito preconceito e alguns tabus. Nesse sentido, eu vejo que é muito importante trazer o assunto à tona, pois percebo que também há muita desinformação, até mesmo sobre prevenção e prazer. É importante destacar que uma vida sexual satisfatória é sinônimo de qualidade de vida!

Acerca da sexualidade de pessoas trans, vejo depoimentos que enfatizam o quanto o assunto ainda permanece submerso e, sobretudo, como trans têm inseguranças na relação sexual. O que você diria sobre isso? O que você acha crucial ser mencionado, quando tratamos da sexualidade de trans? Você teria algum exemplo concreto de algum caso para respaldar melhor o tema?

Esse assunto ainda há grandes barreiras a serem enfrentadas, as pessoas acham que isso é um afronte à família e pura safadeza. Tudo isso precisa ser muito discutido, até mesmo dentro do universo trans. Entre os transexuais ainda há muitas dúvidas e, muitas vezes, o tratamento para eles não é colocado de uma forma adequada. Muitos o fazem sem tratamento psicológico, de forma inadequada. Desse modo, é preciso entrar com muita educação nessas questões.

Suponhamos que uma pessoa transa sem camisinha ou a camisinha fura. É possível fazer algo para evitar HIV, mesmo depois da penetração? O que deve ser feito nesses casos?

Olha, tem que tomar muito cuidado com isso! A PEP (Profilaxia Pós-Exposição de Risco) é dada como uma forma de tentar evitar, contudo, não se pode contar muito com isso, pois em alguns casos não dá certo. O ideal é comprar preservativos de qualidade, colocar direito, e, se for o caso, use dois preservativos. O que muita gente faz é tomar antes a PrEP – Profilaxia Pré-Exposição ao HIV – é o uso preventivo de medicamentos antes da exposição – e, mesmo assim, fazem o uso do preservativo.

Inscrever-se
Notificar de
0 Comentários
mais antigos
mais recentes
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários