Com o passar dos anos, tem se tornado possível encontrar cada vez mais informações a respeito da transexualidade, mas apesar de todo o acesso à informação que temos nos dias de hoje, a transfobia permanece sendo um assunto que necessita de grande abordagem. Infelizmente ouvimos em diversos lugares, preconceitos voltados à pessoas transgênero e muitas vezes percebemos que isto é visto como algo “comum” para muitos, de forma que, por acharem “natural”, não procuram se aprofundar a respeito do tema.
É preciso primeiro que entendamos o que é a transexualidade para que assim possamos passar a compreender melhor o que é a transfobia e os efeitos que ela causa. A transexualidade remete-se a indivíduos que não se identificam com a designação dada no nascimento. Simplificando, por exemplo, é quando a pessoa nasce com órgãos sexuais femininos, fêmea, no entanto, não se identifica com as características deste sexo, de forma que se sinta representada pelo oposto, ou seja, masculino, logo, o gênero daquele sujeito é masculino.
Isso muitas vezes pode ser visto por muitos como algo fora da natureza humana, o que faz com que os preconceitos passem a ser formados por aqueles que consideram que pessoas trans estão erradas, simplesmente por estarem fora dos padrões impostos e tidos como corretos pela sociedade. É aí que a transfobia começa e pode vir de forma velada, pois essencialmente é o ódio às pessoas trans. Segundo o relatório “Trans Murder Monitoring” feito no ano de 2019, e desenvolvido pela rede de organizações Transgender Europe, o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo.
A pesquisa tem como objetivo determinar o número de homicídos realizados contra transexuais e travestis em todo o mundo e que tiveram como motivação a transfobia. De acordo com os dados apontados pela pesquisa, entre outubro de 2018 e setembro de 2019, cerca de 130 assassinatos de pessoas trans foram registrados no país, dobrando o número de casos ocorridos no México, segundo colocado da lista, que teve o registro de 63 homicídios durante o mesmo período.
O conceito sobre o que é a transfobia tem ganhado cada vez mais notoriedade no Brasil, justamente devido ao número de casos de violência associados a pessoas trangênero que vêm ocorrendo em diversos estados nos últimos tempos.
“Crescemos sendo ensinados que “homens são assim e mulheres são assado”, porque “é da sua natureza”, e costumamos realmente observar isso na sociedade. Entretanto, o fato é que a grande diferença que percebemos entre homens e mulheres é construída socialmente, desde o nascimento, quando meninos e meninas são ensinados a agir de acordo como são identificadas, a ter um papel de gênero “adequado” diz a doutora em psicologia Jaqueline Gomes.
Ou seja, transfobia envolve todo ato de preconceito contra pessoas que fazem parte deste grupo, incluindo toda e qualquer forma de discriminação, seja ela verbal, física, psicológica ou moral, que possua o intuito de impedir a expressão de gênero de travestis e transexuais.
O ato que pode ser categorizado como crime de ódio, por possuir como fator principal para a ação do indivíduo que o pratica, a orientação sexual e identidade de gênero da vítima. Tem como algumas de suas principais causas o preconceito estrutural, questões religiosas e a falta de informação. De acordo com dados divulgados pela Associação Nacional de Tavestis e Transexuais (Antra), no primeiro semestre de 2020, houve um aumento de 39% no número de mortes de pessoas trans, comparado ao mesmo período do ano anterior, chegando a 89 mortes confirmadas até o mês de julho.
Ainda, segundo a Antra, 94% da população trans afirma ter sofrido algum tipo de violência motivada pela discriminação devido a identidade de gênero. Ao serem questionadas a respeito de suas principais necessidades, 87,3% das respostas foram voltadas ao direito ao emprego e a renda, seguidas de acesso à saúde (geral e específicas as questões de transição), educação, segurança e moradia.
Já de acordo com o coordenador do Grupo de Ação e Pesquisa em Diversidade Sexual e de Gênero da USP, Vinícius Alexandre, embora não existam dados específicos e oficiais a respeito, é estimado que o suicídio de pessoas trans seja de 31% a 50%.
Até aqui, observamos que os efeitos da transfobia na vida de pessoas trangênero são inúmeros e, lamentavelmente, podem levar a situações irreversíveis como a morte, seja por assassinato ou suicídio. É preciso que políticas publicas e leis que protejam essa população sejam criadas, para que esses cidadãos passem a se sentir seguros na sociedade onde vivem, mas do que isso, para que se sintam parte integrante desta sociedade, sem a sensação de exclusão.
Além disso, é preciso que informações sobre o tema sejam transmitidas de forma com que todos possam ter acesso a elas, a fim de que casos gerados por falta de conhecimento deixem de existir. É necessário que os governantes de estados e cidades comecem a dar a devida importância para um assunto que pode e tem tirado centenas de vidas em diferentes partes do país.