A escola de samba “Mangueira” já tem o enredo para o carnaval de 2020 definido – “A verdade vos fará livre” -, que pretende colocar na avenida inúmeras discussões sociais. Leandro Vieira, dono da composição trará Maria Madalena representada pelas cores da bandeira LGBT, além de representar Nossa Senhora das Dores como uma mulher negra. Em entrevista ao Observatório G, Leandro Vieira nos deu detalhes sobre o desfile e de quebra informou que a ala “Maria Madalena ano 2.000″ está aberta para todxs!
Leandro, o enredo “A verdade vos fará livre” é inteiramente seu? E de onde veio a inspiração?
Sim, é uma proposta autoral. O enredo nasce da vontade de seguir falando do Brasil para o Brasil. Do desejo de olhar para o Brasil. De registrá-lo artisticamente. O enredo nasce disso: Das urgências de um país marcado pelo avanço da intolerância e do discurso que tende a esvaziar as diferenças.
Você está preparado para as críticas por representar Maria Madalena como uma mulher LGBT?
A obra de um artista é vulnerável a críticas. Na verdade o que é produzido é colocado numa vitrine para as pessoas tecerem suas considerações. Há quem goste e há quem não goste. Gostar, assim como não gostar é um direito. Sou super tranquilo no que diz respeito às críticas. Respeito e sigo aprendendo.
Você não teme sofrer censura ou retaliação das demais escolas de samba ou até mesmo do governo?
Quem produz arte com medo disso, ou daquilo, está fadado a mediocridade. Não há espaço para esse tipo de pensamento quando você está entregue e ciente do papel do artista. Não se olha para a escuridão quando o que te encanta é a luminosidade de uma ideia.
Qual é a mensagem e qual discussão você pretende provocar com estas metáforas – Madalena LGBT e Nossa Senhora Negra?
O papel social da arte é a sua capacidade de levar a reflexão. O que eu quero é que as pessoas pensem.
A Mangueira pretende convidar transsexuais e travestis para o desfile de 2020? Se eu não me engano, nunca no carnaval do Rio de Janeiro houvera tamanha representação. Você já pensou sobre?
Meu trabalho não é muito voltado para esse tipo de convite. Minha experiência com a Mangueira me leva a crer que olhar para a Estação Primeira, sua gente e seus representantes dá mais certo. Isso porém não impede que travestis e transexuais se interessem em estar conosco na Avenida. A Mangueira acolhe. A Mangueira recebe toda sorte de gente. A ala “Maria Madalena ano 2.000” tá aberta. Quem quiser vir, é só chegar!