“Todxs Nós”, que lê-se “Todos Nós” é o nome da nova série produzida pela HBO Brasil, a trama que estreia apenas em 2020 vem ganhando forma aos poucos e segundo o diretor Daniel Ribeiro, a produção audiovisual será arrebatadora para os jovens LGBT+ no país. Para quem ainda não está por dentro do assunto, “Todxs Nós” trará a atriz Clara Gallo como protagonista vivendo uma pessoa não binária (gênero neutro) e Kelner Macêdo como um jovem gay que interpretará diversas cenas de sexo na série. Em primeira mão, Daniel Ribeiro, também diretor de “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” falou sobre a sua mais nova criação.
Daniel, você é um nome consagrado dentro do universo LGBT, “Eu não quero voltar sozinho” e “Hoje eu quero Voltar Sozinho”, por exemplo, são obras suas. O seu intuito é de fato abordar essa temática ao longo de toda a sua carreira?
Como eu sou gay e vivo em um ambiente com muitas pessoas LGBTs e aliadas, contar as nossas histórias me parece um processo natural. Tanto que nem vejo essas histórias necessariamente como “temáticas”. Muitas vezes as minhas nem são sobre questões LGBTs especificamente, mas questões universais vividas por pessoas LGBTs. Na série TODXS NÓS tem uma mistura de muitos temas além do LGBT.
”Todxs Nós” será a sua primeira série, certo? Como e quando você iniciou o processo de criação da obra?
A cineasta e amiga Vera Egito tinha a ideia de fazer uma série sobre pessoas não binárias e eu estava desenvolvendo um projeto de longa metragem com personagens trans na mesma época. Foi aí que ela me chamou pra gente desenvolver uma história que abordasse as questões de identidade de gênero. Surge então i personagem Rafa, pessoa não binária vivendo um processo de amadurecimento e compreensão de sua identidade, e também os outros dois protagonistas: Maia, uma jovem programadora de aplicativos lidando com as questões feministas e raciais em uma empresa que tem valores questionáveis,e Vini, um jovem gay que se auto denomina careta lidando com as expectativas da mãe e do mundo em relação a ele.
A série abordará a comunidade LGBT+ de forma ampla, qual foi o cuidado que a direção teve na seleção dos atores? Vocês optaram por atores transsexuais e não binários?
O processo de produção de elenco foi bem complexo e de muito debate porque queríamos um elenco diverso. Além da questão trans, a série também aborda as questões raciais e de orientação sexual, então estávamos atentos o tempo todo para montar esse quebra-cabeça de um elenco plural. Acho que alcançamos um equilíbrio interessante, já que 37% do elenco é composto por pessoas trans e não binárias.
Atualmente a pasta de diversidade vem sendo cortada paulatinamente através do governo Federal, isso lhe assusta? Quais são suas expectativas com a estreia de “Todxs Nós”?
Em épocas como agora, o medo pode ser o nosso pior inimigo. Por isso acredito que o nosso foco deva ser trazer luz pra combater as trevas de quem quer um mundo sem diversidade, sem pensamento, sem arte. Nesse sentido, a HBO nos dá muito combustível pra mantermos muitas chamas acesas e o debate acontecendo.
Você teme ser vítima de censura com a série na HBO?
Não, porque se sentirmos medo vamos nos autocensurar antes de nos censurarem. Estamos contando histórias de pessoas que existem no Brasil e nenhuma existência pode ser censurada.
De que forma você espera que os telespectadores consumam a série? E qual é a mensagem principal desta produção?
A série é uma comédia dramática que vai debater muitos assuntos atuais. Espero que as pessoas divirtam-se e aprendam (junto com os personagens) sobre a diversidade que existe para além das bolhas.