Cultura

Combate à homofobia começa desde cedo: pedagoga promove literatura infantojuvenil e ativista

No novo livro "Meu menino colorido", Zenilda Vilarins Cardozo trata sobre as consequências do preconceito em crianças e adolescentes

Livro LGBT
Livro LGBT (Foto: ilustrativa)

Pedagoga que atuou durante mais de duas décadas no ensino público, ela discorre em entrevista sobre a necessidade de implementação de projetos educacionais relacionados à diversidade. Também fala sobre seu trabalho na literatura, que tem o compromisso de tratar de luta antirracista, diversidade sexual e feminismo com crianças e adolescentes. Zenilda Vilarins Cardozo, pedagoga, autora do livro infantojuvenil “Meu menino colorido” e escritora que defende o combate à homofobia a partir de uma literatura ativista.

Leia:

1 – No livro “Meu menino colorido”, você destaca a importância do apoio a crianças e adolescentes LGBT+. Você também é tia de uma pessoa que sofreu LGBTFobia na adolescência. Como isso contribuiu para a construção da trama?

Zenilda  Vilarins Cardozo: Ao reconstruir a história, vivenciar em nossas memórias o passo a passo daqueles momentos dolorosos e rememorá-los podendo contar um final feliz, em uma conversa com meu sobrinho, pensamos na importância de lançar este livro. Pensamos em construir um enredo que pudesse chegar aos jovens LGBTQIAP+ como exemplo de superação; aos jovens heterossexuais como alerta para a importância de entender e saber sobre a diversidade; às famílias, para que procurem acolher seus filhos LGBTQIAP+ ou orientar seus filhos heterossexuais; e às instituições de ensino sobre a importância de projetos específicos para falar sobre preconceito e diversidade.

2 – Você tem experiência na área da educação há mais de 35 anos. Quais aprendizados a vivência em sala de aula trouxe sobre as demandas de crianças e adolescentes brasileiros?

Z.V.C.: Como trabalhei durante esse período na rede pública de ensino, aprendi sobre a importância de estudar o tempo todo e sempre me atualizar, pois conheci pessoas carregando suas histórias individuais. Conheci famílias diversas em níveis socioeconômico, religiões, escolaridade, estrutura… O chão da escola traz aos educadores oportunidades únicas para aprender o quão extraordinário é o ser humano em toda a sua extensão. Cada aluno que recebemos é um ser específico, com sua essência particular. Lidamos com a diversidade, cada estudante é “um” em seu universo. Então, todo ano o planejamento tem que ser diferente e cada estudante tem que ser atendido em suas demandas particulares. O educador precisa direcionar o olhar para seus alunos de forma individual, atendê-los em suas necessidades, ao mesmo tempo em que estabelece uma atmosfera de coletividade, onde cada um pode contribuir para o bem-estar de todos.

3 – Para você, qual é a melhor forma de tratar jovens que se entendem “diferentes” do que é considerado normal na sociedade? Como lidar com a diversidade de forma natural?

Z.V.C.: Acredito que o primeiro passo é enxergá-los, já que a postura inicial sempre é negar sua existência para que não seja necessário falar sobre. São necessárias também a autoavaliação quanto a sua postura e a desconstrução dos seus conceitos e preconceitos. Para isso, nada melhor do que leitura, informação e principalmente empatia, exercitando a pergunta: e se fosse comigo?

4 – Você já tem outros dois livros lançados. Fale um pouco sobre eles.

Z.V.C.: 1. Preta de Greve e as Sete Reivindicações conta a história da menina Pérola Preta, que descobre na prática o conceito de racismo ao iniciar sua vida escolar. Percebe ainda a falta de representatividade da mulher negra em espaços de poder. Em sua trajetória, ela entende que é necessário um tripé para lhe dar sustentação: informação, resistência e reivindicação. Essas são as três palavras que a ajudarão a passar por esse início de vida social de uma pessoa negra. Assim, faz uma lista de sete reivindicações que serão a base da sua luta cotidiana.

2. Preta ainda de greve (Lei maria da Penha). Neste episódio, Pérola Preta, agora adolescente, estuda sobre Maria da Penha e a lei que leva seu nome na escola. Ela começa a identificar, em seu cotidiano, mulheres que sofrem os vários tipos de violência. Com sua bandeira – informação, resistência e reivindicação -, inicia mais uma luta, dessa vez para conscientizar adultos, meninas e meninos sobre a causa.

5 – O que os leitores podem esperar de você quanto a futuras publicações? Já tem planos para lançar novos livros?

Z.V.C.: Sim, tenho alguns textos na fila para publicação, ainda preciso definir qual será o próximo. São: “Sofia no País das Livrarias”, uma narrativa sobre a importância da leitura; “Ubuntu, sou porque somos”, sobre Rafa, uma menina negra de pele clara; e “Guto, um herói antirracista”, sobre um menino negro e sua luta contra o racismo.