Quando pensamos em arte nos tempos antigos, logo nos debruçamos nas grandes peças de teatro que horrorizavam o público pelos conteúdos polêmicos, mas necessários para fazer a sociedade refletir diversas questões. Nelson Rodrigues, por exemplo, foi um grande dramaturgo, que trazia em suas obras muitas histórias escandalosas para o tempo, que refletiam os conflitos sociais. Na música, grandes nomes, como Cazuza e Renato Russo usaram suas composições como forma de trazer à tona assuntos que eram colocados debaixo do tapete. As reações eram sempre iguais: a maioria criticava e odiava, e uma pequena parte das pessoas gostava e muito.
No cenário atual do século XXI, no qual a tecnologia e a informação se disseminam em uma velocidade impressionante, a arte ainda se mantém como uma ferramenta poderosa para desafiar normas, quebrar tabus e expandir horizontes. Um exemplo recente desse fenômeno é o novo videoclipe da cantora Luisa Sonza, que gerou polêmica e diversas interpretações, além de muita crítica ao trabalho da artista – que chegou a perder na última semana mais de 100 mil seguidores no Instagram.
O que as pessoas não param para pensar é que muitas intervenções artísticas nos coloca a confrontar as nossas próprias sombras, o que gera um desconforto inicial. A arte tem o poder de abordar questões sensíveis e controversas que muitas vezes são evitadas em discussões convencionais, assim, funciona como um espelho que reflete as realidades sociais, políticas e culturais da época.
Uma das maneiras mais poderosas de a arte catalisar mudanças é explorando as sombras humanas, ou seja, os aspectos mais obscuros, complexos e muitas vezes reprimidos da psique humana. Por meio da pintura, da música, do cinema e de outras formas de expressão, a arte permite que as pessoas entrem em contato com seus medos, desejos ocultos e questões não resolvidas. Isso cria uma oportunidade de autoconhecimento e crescimento pessoal, além de promover empatia ao compreender as experiências alheias.
O Impacto do Novo Videoclipe de Luisa Sonza
O lançamento do videoclipe da cantora Luisa Sonza evidencia como a arte contemporânea continua a romper barreiras. Intitulado “Campo de Morango”, a trama traz cenas da artista dançando de forma sensual, em cima de uma cama que está cheia de morangos – o que deixa o lençol e as roupas da cantora tingidos de vermelho.
Nas redes sociais, a maioria das pessoas dizem ter a impressão de que todo esse morango significa sangue – algo que tem incomodado muita gente. Muitas questões foram levantadas a respeito dos significados do videoclipe – talvez ainda pelo sangue simbolizar violência e sofrimento, e por isso, muitas pessoas associaram o vídeo a coisas negativas. Por outro lado, existem momentos naturais em que o sangue está presente, como em partos e na menstruação. Inclusive, uma das interpretações que chamou a atenção foi sobre o tema sexo durante a menstruação, que pode ser algo super positivo sem ser alvo de criticas e tabus.
Transar enquanto está menstruada pode ser muito prazeroso e benéfico para a mulher, pois muitas mulheres sentem a libido aumentar nesse período. Fora isso, o orgasmo no período menstrual é considerado bom, por ser capaz de aliviar até mesmo as cólicas sentidas pela contração do útero nessa fase. Além deste, há outros benefícios relatados acerca desta prática, como a diminuição do estresse que algumas mulheres sentem com mais afinco. A ginecologista Roberta Grabert, formada pela FMUSP, alerta: “É importante ressaltar que, por mais que seja benéfico, durante a menstruação, o sexo pode aumentar o risco de contrair infecções transmissíveis (ISTs), e por isso, a proteção e boa higiente pós-sexo são fundamentais”.
Mas se está comprovado que sexo e menstruação podem, sim, estar juntos, por que será que as pessoas ainda tem aversão pelo tema? – especialmente quando se liga a sexualidade feminina também? Pois, sim! Pode a mulher sentir vontade e desejo sexual, ainda que esteja menstruada – A resposta está entranhada nos paradigmas inseridos na sociedade há muito tempo e que ainda não foram desmistificados. “A ideia de que o sangue menstrual é algo ruim e sujo, ainda permeia entre as pessoas de uma forma muito intrínseca. A sexualidade feminina, então, nem se fale! A maneira mais eficaz de ressignificar algo que é natural e comum na vida das mulheres é trazendo o assunto para debate”, afirma Raíssa Assmann Kist, CEO e fundadora da Herself, femtech voltada para soluções menstruais.
Em entrevista para um podcast, Luisa Sonza diz que todo seu álbum novo está carregado de simbolismo e imagens surrealistas, que podem gerar diversas interpretações e reações. E afirma que “Campo de Morango” não tem nenhuma relação com violência sexual ou aborto. Algumas pessoas podem ter se sentido desconfortáveis com as imagens ousadas e a narrativa do vídeo, enquanto outras o interpretaram como uma crítica social ou como uma forma de empoderamento.
Independentemente das interpretações individuais, o clipe conseguiu o que a arte faz de melhor, que é estimular conversas e reflexões.”, conclui Raíssa Assmann Kist.