O assunto linguagem neutra ainda está incipiente, mas ganhando força. O intento dos apoiadores é propiciar, nas empresas e no ambiente escolar, uma linguagem mais inclusiva, que acople a todos. ‘Todes’ ou ‘todxs’ surgiram como alternativas para evitar a categorização binária – masculino e feminino. Nas últimas semanas, o filósofo Luiz Felipe Pondé, autor de livros populares como A Era do Ressentimento, deu o seu parecer acerca do tema.
No programa Linhas Cruzadas, da TV Cultura, Pondé foi indagado pela jornalista Thaís Oyama – “É bom ser inclusivo, mas me parece que estamos beirando a radicalização. Esta é uma discussão de rico. Não que só rico sofra com isso, mas no sentido de, antes disso precisar acontecer, termos a necessidade de uma constituição material ou social maior, em que as pessoas passem a entender esta questão e se preocupar com ela”.
Após a fala da ativista Rosa Laura, Pondé contrapõe – “Concordo que a língua é um sistema vivo, tem razão. Só que ele é um sistema provido de uma vida que a gente não sabe direito como funciona. E esse discurso tem todas as características de um discurso autoritário, lembra muito a novilíngua”, ao aludir à obra de George Orwell no livro 1984, sobre “ressignificar” palavras que já existem.
O escritor destaca que toda essa discussão é uma forma de o ser humano sentir-se mais virtuoso, como se alguém que não seguisse tais ditames automaticamente se tornasse um herege, sem empatia, justamente por teoricamente ‘não respeitar todas as formas de inclusão’. “Não é à toa que isso veio dos Estados Unidos, né. Essa onda inteira veio dos Estados Unidos que é um país que tem bastante influência puritana na sua raiz. E essa, essa ideia de que você vai limpar o mundo de todos os impuros. E os impuros são as pessoas que não se submetem a essa ortodoxia. E tem uma coisa que é muito interessante porque são os detalhes. Os puritanos mais clichês, que inclusive queimaram bruxas também, tinha essa paranóia com bruxa ou bruxo”, afirma.
Confira na íntegra
O Observatório G, no início do ano, conversou com o especialista em linguagem, o professor André Valente, que diz ser favorável à incorporação da linguagem neutra. O professor destacou que, “embora a língua tenha suas regras próprias, que não se modificam de acordo com a vontade de indivíduos ou por força de decretos, não há nada que impeça a língua de aderir a formas, inclusive que não fazem parte de sua estrutura“. E complementa – “para que serve uma língua senão para que as pessoas se comuniquem em sociedade? E se o sentido de “comunicar” é tornar comum, como podemos almejar que as pessoas compartilhem de forma igualitária os diversos contextos de comunicação se a língua expressa uma visão de mundo que privilegia o masculino e mantém o feminino como segundo plano?“, indaga.