Desbravar o tema sexualidade de forma geral é encarar diversos tabus penetrados na sociedade. Mesmo o debate sobre o assunto ter amplificado, podemos dizer com exatidão que ainda temos um logo caminho a ser trilhado nesse quesito. Ou seja, a temática se propaga, porém com muita desinformação e preconceitos.
Para falar sobre o tema ejaculação precoce, o Observatório G conversou com o urologista Dr Marcelo Magalhães que, dentre muitas qualificações, traz em seu currículo ênfase na saúde LGBT+.
1 – O que é ejaculação precoce?
É aquela que acontece antes do tempo que seja satisfatório para os parceiros. Tanto para o homem como para sua parceria. Não existe regra de tempo, isso é relativo. Tem casal que se satisfaz com 2, 3 min, já outros com 10, 12 min de penetração ainda não estão satisfeitos. 3 minutos satisfatórios não é considerado ejaculação precoce. Já para o casal que mantém com 10, 12 minutos e não está satisfeito é considerado ejaculação precoce. Na verdade, o que importa é o incômodo, tanto para o homem como para parceria. O tempo é relativo e o que merece atenção é por quanto tempo isso acontece. Existe a ejaculação precoce que é episódica. Já tem aquela, que merece tratamento, que dura meses, anos e até a vida inteira.
2 – Tem tratamento? Quais tipos
Existem dois principais tratamentos. De curto prazo e de longo prazo. De curto prazo, quase sempre recomendo, porque tem uma resposta rápida. Com uma semana de tratamento, o homem já sente a diferença e isso tira o sujeito da angústia e aflição. O problema deste tratamento é que só surte efeito quando está sendo feito, com medicações, e são remédios que não se tomam a vida inteira. Quando esse remédio é tirado, a ejaculação precoce tende a voltar, por isso é importante o tratamento em longo prazo ao mesmo tempo. Este tratamento mais longo, consiste em orientações como focar no sexo em si, concentração. A ansiedade tira o foco do prazer do momento. A ejaculação precoce tem relação com a ansiedade. Sentir, estar presente é importante. Aí é recomendado, também, vida saudável, atividade física, dormir bem, diminuir estimulantes como café, e fazer terapia com psicólogo para descobrir a causa dessa ansiedade para o paciente aprender a controlar. É demorado, a terapia costuma durar em torno de 2 anos para um resultado satisfatório, por isso o remédio ajuda neste período. Os remédios são antidepressivos, em dose baixa, porque eles diminuem a ansiedade, tiram a sensibilidade do pênis, o que faz com que a relação seja mais duradoura. Um paciente que ejacula em 1 minuto passa a ejacular em 6, por exemplo. Existem camisinhas mais grossas com um pouco de anestésicos, que também tiram a sensibilidade, gel com princípio de anestesiar o pênis, mas é preciso ter cuidado e bastante atenção. Mas o que é mais usado são as medicações.
3 – Caso o tratamento seja demorado, como lidar com isso?
Primeiro é ter consciência de onde vem a ejaculação precoce. Imagina que o orgasmo é o ápice e clima de vários hormônios, pura adrenalina, coração acelera. O ideal é entrar no sexo relaxado, no estado basal de relaxamento, porque demora para chegar neste clímax. Com a pessoa ansiosa, estressada, o basal já é um pouco mais alto. Isso pode ter relação no trabalho, família, ou naturalmente assim. Essa pessoa tem níveis de hormônios circulantes mais altos. Quando ela vai para o sexo, ela já está quase lá. A partir do momento que a pessoa entende isso, ela compreende a importância de controlar a ansiedade. Aí é buscar os dois tratamentos, de longo e curto prazo.
4 – Pode existir a ejaculação precoce em episódios específicos? Por exemplo, o paciente não sofre disso, mas em situações de medo e ansiedade acontece.
Na verdade, existem três tipos – primária, secundária e episódica. A primária é com aquele sujeito que sempre ejaculou rápido, desde novo, isso pode ter relação com a genética, ansioso por natureza. Criação também, criado em ambientes muito religiosos, nos quais o sexo é tabu, tema proibido. O secundário é aquele que ejaculava no tempo normal, satisfeito, mas de repente passou a ter ejaculação rápida, mas de formas sólidas, meses ou anos. Geralmente isso acontece por fatores estressantes maiores. Por exemplo, o cara foi casado por muitos anos, separa, e quando vai conhecer a pessoa nova gera insegurança e ansiedade em torno dessa questão, aí ele passa a ter ejaculação precoce aos 40 anos, por exemplo, por conta de eventos estressores. E tem o terceiro tipo, a episódica, de vez em quando. Essa tem relação com ansiedade, mas coisas mais pontuais. Tipo, saiu com a pessoa do sonho, por exemplo, é normal bater a ansiedade e insegurança na hora H. Ou seja, habitualmente normaliza depois deste episódio. Esse tipo não costuma ser tratável, só orientação mesmo.