Magnus Hirschfeld* chegou a fazer menções indiretas sobre assexualidade no século XIX. Existem indivíduos que não têm nenhum desejo sexual (anesthesia sexualis), disse ele, com o termo – anestesia sexual – cunhado nesta época.
*Magnus, homossexual assumido, foi perseguido pela sociedade e pelo governo nazista da Alemanha de 1933.
Após alguns estudos, entendeu-se que alguns assexuais não têm desejo sexual nenhum, mas podem desenvolver afetividade. Já outros têm desejos sexuais em episódios específicos, mas a atração não costuma ser recorrente.
Assexuado – tem a ver com aparelho reprodutório, já assexualidade é uma variação da sexualidade, isto é, pessoas que não costumam ter atração sexual.
Em entrevista ao Observatório G, Adilson de 34 anos, assexual, falou sobre os desafios da assexualidade.
“Desde a época da escola, na adolescência, nunca fui dos namorinhos como qualquer adolescente tem. Mas isso, na época, não me incomodava. E por incrível que pareça, onde muitos sofrem bullying, na escola, comigo foi ao contrário, nunca sofri discriminação sobre minha assexualidade neste ambiente; talvez porque não soubessem, não desconfiavam, sei lá! Meus amigos e colegas me respeitavam. Para mim foi um ambiente agradável. Logo a vida adulta veio chegando e foi quando começaram as discriminações”, começou.
A princípio, eu não tinha afinidade em falar sobre sexualidade e, no trabalho, geralmente passamos mais horas/tempo em contato com as pessoas que com a própria família e, querendo ou não, as pessoas acabavam conhecendo meu jeito, costumes, enfim. E quando surgia assuntos de “crush”, sexualidade, eu me sentia um peixe fora d’água, ou até mesmo fugia do tema. E com isso vinham comentários entre os funcionários do tipo: “Nossa, ele é muito estranho, né?” e esses burburinhos chegavam até mim. Às vezes até acontecia com pessoas mais diretas do tipo: “você não namora?!” e até mesmo “é benino ou benina” para se referir a “menino ou menina”.
Situação conturbada
A reinvindicação de Adilson é que, ao menos, as pessoas conheçam mais o tema, principalmente os profissionais de saúde, para minimizar os percalços.
Pior mesmo foi quando procurei consulta médica e, dentro da clínica, sofri discriminação verbal e física quando tentaram me invalidar numa intervenção cirúrgica, por não fazer sexo, mas isso não impedia de conhecer o meu próprio corpo e com prazer. Antes de qualquer consulta, aconselho que pesquisem a especialidade do médico.
De todos os lugares/trabalho ao qual tinham as questões discriminatórias, nada foi comparável ao que sofri pela classe médica, esta que deveria estar apta a lidar com questões LGBTQIA+.
Creio que a prevenção é menos custosa que o remediar. As sequelas que ficam por sofrer discriminação é horrível em qualquer situação, mas sofrer por quem formou-se em saúde é bem pior. Recorri à saúde para tratar uma questão cirúrgica e sofri ato discriminatório por um médico que não possui especialidade em saúde masculina (descobri posteriormente). Uma simples pesquisa sobre quem vai nos atender já ajuda muito. Apesar de tudo, sou feliz por ser assexual e qualquer pessoa pode ser feliz como é. Eu me entendendo como assexual foi uma liberdade e tanto num mundo sexualizado. E se alguém perguntar por que não namoro, saberei expor que sou feliz assim.