Magnus Hirschfeld* chegou a fazer menções indiretas sobre assexualidade no século XIX. Existem indivíduos que não têm nenhum desejo sexual (anesthesia sexualis), disse ele, com o termo – anestesia sexual – cunhado nesta época.
*Magnus, homossexual assumido, foi perseguido pela sociedade e pelo governo nazista da Alemanha de 1933.
Segundo dados do Programa de Estudos da Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (ProSex-IPq), cerca de 7,7% das mulheres brasileiras e 2,5% dos homens, entre 18 e 80 anos, são assexuais.
“Assexualidade é a falta total, parcial ou condicional de atração sexual a qualquer pessoa, independente do sexo biológico ou gênero”, afirma Claudia Petry, pedagoga com especialização em Sexologia Clínica.
Para tirar as dúvidas, a sexóloga cita 9 mitos e verdades sobre a orientação:
Assexualidade é uma escolha
Mito: Algumas pessoas podem optar por não fazer sexo, mas não escolhem não querer sexo. Não se trata de escolha, mas de orientação sexual.
Assexuais não praticam relações sexuais
Mito: É comum pensar que os assexuais não sentem nenhum desejo sexual ou não fazem sexo. No entanto, mesmo que o sexo não seja essencial, muitos encontram nele uma forma de conexão com parceiros, inclusive para satisfazer o desejo do outro.
Assexualidade pode ser um distúrbio fisiológico
Mito: De acordo com uma pesquisa da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, os assexuais conseguem ter ereções ou, no caso das mulheres, lubrificação vaginal.
“Eles podem, inclusive, ter relações sexuais e experimentar orgasmos, além de gostar de beijos e carícias”, reforça Claudia Petry. Também não há nenhuma disfunção ou distúrbio hormonal que justifique a falta de interesse sexual.
Assexuais podem ter relações amorosas
Verdade: Além de terem relações amorosas, podem namorar e casar. Relacionamentos não são apenas sobre sexo, mesmo entre casais com necessidades sexuais distintas.
“Os assexuais experimentam a sexualidade de formas diferentes, mas têm as mesmas necessidades emocionais que pessoas com outras orientações sexuais. Neste caso, o casal precisa ter cumplicidade e diálogo para chegar a um acordo do que é aceitável ou não. Muitas vezes, ambos descobrem o prazer sexual de maneiras inusitadas e acabam conciliando suas diferenças”, diz Petry.
Assexual pode ser chamado de assexuado
Mito: Assexuado é um termo usado para indicar a ausência de órgãos sexuais ou, conforme definições da biologia, a reprodução que acontece sem intervenção de dois sexos. Sendo assim, não há qualquer relação com a assexualidade.
Assexualidade não tem relação com traumas ou abusos
Verdade: Pessoas que passaram por abusos ou experiências sexuais negativas podem continuar sentindo desejo sexual, mas o medo pode bloqueá-las de alguma maneira. “Já a assexualidade não surge a partir de traumas ou porque a pessoa não consegue encontrar um parceiro ideal”, pontua Claudia Petry.
“A assexualidade não se enquadra em qualquer patologia. Portanto, a melhor forma de mudar esse cenário é se informar e desvincular a imagem do assexual a de alguém doente ou fora de uma cultura sexonormativa”, finaliza Claudia Petry.