Alerta!

O erro de enxergar transgeneridade como doença

compreender a transgeneridade como uma doença não tem justificativa - entenda as razões

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O conceito de ideologia de gênero foi discutido em publicação anterior. Nela apontei dois usos deste conceito. Ignorar diversas informações sobre o universo transvestegênere ao longo dos séculos e entre diversas sociedades. E, consequentemente, afirmar que as pessoas nele inscritas (e por extensão, todo universo LGBTQIAP+) escolhem nele estar.

Uma visão que pretende científica quer compreender este universo enquanto uma doença. Antes de analisar porque ambas estão inscritas na transfobia, quero perguntar: o que é doença? O que é saúde?

No meu livro* discuto ao longo de dez páginas o conceito de doença. Apenas para ilustrar a complexidade do tema apresento onze diferentes conceitos. Estes vã, da antiguidade clássica, passando pelo renascimento e chegan ao século XX. Mas para simplificar, podemos olhar no dicionário . Ele define doença como “falta de saúde, desarranjo no organismo, alteração, perturbação das funções orgânicas”.

Diabetes é um desarranjo no organismo; hipertensão arterial é uma perturbação de funções orgânicas. Não é difícil compreender úlcera péptica, varizes, tumores benignos e malignos, psicose, distúrbio bipolar como doenças. São situações que predispõe, por modificações no próprio corpo, a uma pior qualidade de vida e / ou redução na expectativa de vida.

Como pode ser compreendido que ser transvestegênere, ou LGBTQIAP+, seja um desarranjo no funcionamento do corpo? Ah, dizem alguns, não é algo no sistema endocrinológico, ou reprodutor, ou neurológico, mas na mente, na organização dos pensamentos e afetos.

Mas se assim fosse, as pessoas trans estariam prejudicadas. Convívio social, trabalho produtivo, qualidade de vida e expectativa de anos a viver…

A história já publicada nesta coluna de Albert Cashier, soldado na guerra civil norte-americana, é exemplo de como os dois primeiros itens não se sustentam. No livro já citado, há várias outras. E todos os profissionais de saúde que acompanham pessoas trans são testemunhas. A transgeneridade não impossibilita as pessoas no relacionamento social nem no desempenho produtivo. Procure o perfil de Sophia Mendonça, mulher transvestegênere, autista, que teve sua dissertação de mestrado recentemente aprovada com louvor pela UFMG.

Quanto à qualidade de vida e expectativa de anos a viver não é o ser trans a causa da piora de qualidade e a redução da expectativa pela metade (35 anos, estimativa pré-pandemia do covid-19). Ambas são causadas pela intolerância da sociedade em geral. Como já apresentado nesta coluna, há dificuldades na atenção a saúde pela ocultação da existência, pelo despreparo do serviço de saúde para atender, pela alta frequência de autoextermínio, pela alta incidência de distúrbios mentais causados pela transfobia, e por assassinatos (pelo menos 135 mulheres trans e travestis e 05 pessoas trans masculinas em 2021).

Portanto, dentro do conceito do dicionário Aulete, não é possível encontrar justificativa para defender o ponto de vista de que transvestegeneridade é uma doença.

E retomo a questão em aberto no início deste texto. Atribuir o ser trans a uma situação de não saúde é uma afirmativa oculta de que é necessário, útil, produtivo, saudável tratá-las para que possam ser cisgêneras. Ou seja, negar-lhes o direito de serem compreendidas como pessoas pertencentes ao universo humano, extremamente variável e, por isso, rico.

Não é um absurdo?

* Transgêneros e Fé Cristã, Fonte Editorial

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